O IYPT é um torneio em um formato bem diferente das outras competições científicas, espera-se, assim, uma preparação diferenciada, que envolve desde a parte técnica (desenvolvimento de resoluções teóricas e experimentais) até o treino de apresentações. Seguem abaixo algumas dicas.

Inicialmente, é necessário ter boas resoluções dos problemas propostos no ano em questão. Algumas resoluções passadas podem ser encontradas no IYPT Archive, em especial na sessão de soluções. É interessante ver os relatórios e apresentações de slide dos anos mais recentes, que são, de maneira geral, as que seguem melhor o padrão e a qualidade exigida pelo comitê internacional. Outra fonte de inspiração pode ser o IYPT Book que será publicado em 2012 com soluções em forma de artigo científico de participantes das internacionais de 2010 e 2011. Mais a frente, ainda será começada uma publicação chamada IYPT Magazine, que seguirá o mesmo modelo do IYPT Book, porém com publicação mais frequente. Ambas as publicações contém artigos revisados e aceitos por físicos membros e colaboradores do comitê internacional.

O Ilya Martchenko com mais alguns colaboradores publicam também, todo ano, o chamado kit, com várias dicas e referências para pesquisa de cada problema, que podem ser bastante úteis na montagem das resoluções.

Além disso, ficam algumas dicas para a apresentação e resolução:

  • Os slides devem conter pouco texto. Elabore-o em tópicos e explique oralmente o que for importante.
  • Esquemas teóricos com imagens explicativas e smart arts sempre são úteis e bem vistos, ajudam a explicar de maneira concisa aquilo que você quer passar a banca avaliadora.
  • Não fale exatamente o que está no slide, explique de maneira clara com as suas palavras.
  • Não coloque muita informação no mesmo slide, mas não coloque slides muito vazios da mesma forma. Animações podem ser bem úteis na hora de dividir a apresentação para que ela não fique muito carregada e seja bem dividida, mas devem ser discretas para que elas mesmas não sobrecarreguem os ppts.
  • Na hora de montar os experimentos, use mídia para mostrar que a experiência foi realmente feita, esquematize a montagem experimental para que ela fique clara e explicite como ela pode ter ajudado a manter parâmetros travados e erros reduzidos.
  • Ao listar o material utilizado, coloque a precisão dos instrumentos de medida.
  • Faça análise dos erros, usando desvio padrão, barra de erros nos gráficos, erro percentual, coeficiente de determinação etc.
  • Tome cuidado com as tendências delineadas em gráficos experimentais. Poucos pontos (3, 4, 5…), em geral, não são suficientes para que alguma tendência seja posta em um gráfico. O coeficiente de determinação (que pode ser calculado pelo Excel mesmo) é um bom indicador de se sua tendência é aceitável ou não. Preste atenção no ponto de intersecção definido para o gráfico também.
  • Atente para a reprodutibilidade dos experimentos. Teste várias vezes, use a média e apresente o desvio padrão dos dados.
  • Preste atenção nos algarismos significativos! Muitas casas decimais em seus dados experimentais mostram que você não tomou cuidado com seus experimentos, já que em geral não possuímos tamanha precisão em laboratórios de colégio.
  • Não coloque tabelas imensas na apresentação, por mais que você goste muito delas e que tenha gasto um tempo absurdo para montá-las. Gráficos são suficientes e de mais fácil entendimento, além de permitirem interpretações de mais dados.
  • Quando possível, faça análises matemáticas na parte teórica, elas são úteis para descobrir quais parâmetros são realmente relevantes para o problema e para comparação entre teoria e experimento.
  • Sempre faça comparações teórico-experimentais! Elas são muito importantes! Os parâmetros testados devem ter alguma teoria por trás predizendo quais alterações eles podem provocar e justificando-as. Caso contrário, os experimentos são praticamente inúteis para análise do problema. Ao menos uma interpretação qualitativa em comparação com a teoria apresentada deve ser feita.
  • A comparação entre teoria e experimento é bem vista quando feita por meio gráfico, quando se tem uma função teórica para comparar com os dados colhidos, por exemplo. Sempre se lembrando de calcular os erros.
  • Porte-se de maneira confiante na hora da apresentação, ao menos tente disfarçar o nervosismo (apesar de ele ser inevitável).
  • Padronize os ppts, para que eles caracterizem sua equipe, mas não exagere nos efeitos. Slides com fundo branco e cabeçalhos costumam ser mais limpos e mais organizados, principalmente quando fórmulas são inseridas.

Obviamente, preparar-se para as intensas discussões é necessário.

  • Demonstre confiança ao fazer os questionamentos ou ao respondê-los. Seja sucinto.
  • Use a lousa, ela está lá para isso. Discussões “ilustradas” são mais dinâmicas e permitem maior compreensão para os espectadores.
  • Quando for oponente ou avaliador, não corte a pessoa questionada no meio de sua resposta.
  • Contudo, na parte de perguntas do oponente ou do avaliador, elabore questões que permitam respostas rápidas. Caso o outro comece a enrolar demais, agradeça e explique que infelizmente seu tempo é curto e você tem várias questões a fazer, isso demonstra que você realmente tem vários tópicos conflituosos a serem discutidos.
  • É válido que você fale coisas do tipo “você disse isso, mas por que tal tópico é válido?”. Porém, seja rápido.
  • Avalie a postura do apresentador, mas não perca o foco técnico. Apesar de muitas vezes os jurados da fase nacional deixarem isso passar, os da internacional são imperdoáveis quando alguma falha teórica ou experimental é deixada de lado. Portanto, tente prestar atenção no que é falado pelos outros times. Você está lá principalmente para discutir física! Não se esqueça disso!
  • Faça uma apresentação em slides durante o PF com os pontos positivos e negativos do relator (caso do oponente e do avaliador) e do oponente (caso do avaliador). É interessante também mostrar um resumo da apresentação da outra equipe, dividindo-o em teoria, experimento e conclusão no primeiro slide, isso demonstra que você realmente atentou para aquilo foi dito.
  • É válido, para o avaliador, fazer um último slide de visão geral da discussão.
  • Divida sua apresentação de avaliação e oposição em teoria e experimento quando possível.
  • O relator tem o direito de manter seu ppt projetado durante a discussão e nas sessões de perguntas, use isso a seu favor, seja qual for o seu papel. Se você for relator, use slides escondidos com tópicos que não puderam ser apresentados, só não os apresente nas considerações finais, e use sua apresentação para justificar tópicos questionados. Se você for oponente ou avaliador, peça que o relator volte em seus slides para que suas questões sejam feitas em cima de tópicos realmente falhos e que isso fique explícito para os jurados.
  • Não se intimide com cara de desdém, risadas ou atitudes agressivas de seu opositor. Caso ele não permita resposta fale “posso responder ou isso é um monólogo?”, ou algo do gênero.
  • Mostre ao público que você permite respostas quando fizer perguntas, mas não deixe que o outro gaste tempo demais na resposta.
  • Quando for relator, anote em tópicos nas considerações finais do opositor e apresentação do avaliador aquilo que foi dito contra sua solução. Use suas considerações finais como resposta a todos esses pontos, elas existem para isso.
  • Caso sua equipe esteja bem integrada, suas considerações finais podem ser feitas até mesmo em slide, isso acontece muito na fase internacional, mas é necessária certa velocidade para esse tipo de ação. O opositor pode fazer o mesmo em suas considerações finais.

Melhor do que simplesmente ler dicas é ver vídeos de Physics Fights para entender como ele realmente se desenrola.

  • Canal do Timotheus Hell (time da Áustria): lá é possível encontrar inúmeros vídeos de PFs da fase internacional e do AYPT.
  • Canal do time da Bielorrússia: diversos vídeos da fase nacional da Bielorrússia e da fase internacional.
  • Canal da Bárbara Santiago: alguns vídeos relacionados ao IYPT, incluindo vários vídeos de PFs.
  • Canal da B8 projetos: alguns vídeos de PFs nacionais anteriores (não se baseie muito pelo de 2010, estão aquém do nível atual da competição), cerimônias etc.

Vale a pena também conferir quais são os critérios de avaliação dos jurados. Na internacional, essa tabela é seguida à risca. Aqui no Brasil, porém, uma boa performance por vezes pode te acrescentar alguns pontos na parte de física. Infelizmente, alguns jurados preenchem as notas antes do fim do PF, então tome cuidado com o que fala em sua apresentação, pois pode já ser tarde demais.

Bons estudos e boa preparação a todos!