Transições

Comentei no post abaixo sobre um período em que simplesmente queria desistir de tudo que me lembrasse olimpíadas, exceto o colégio. Sinto que, por mais parágrafos que eu escrevesse sobre isso antes, não passaria a visão correta. Então, decidi aproveitar o post anterior para fazer este, e mostrar mais uma história sobre mim.

No fim de 2005, minha sexta série, tinha aparecido uma oportunidade (daquelas que só aparecem uma vez na vida) de estudar no Colégio Objetivo por meio do ISMART. Eu não tinha certeza de nada do que iria acontecer, mas estava de férias, então resolvi correr um pouco atrás disso com meus pais. Não perderia nada tentando.

Nisso, acabei fazendo as provas de seleção (provas de Lógica, Português e Matemática). E então descubro que passei, e que fiquei entre os 20 melhores dentre mais de 600 anos da rede pública. Nisso, seguiram algumas entrevistas individuais, entrevistas em casa junto com a minha família, e uma dinâmica de grupo. Sinto não ter treinado discurso algum, nem ter estudado alguma coisa antes da prova (nunca tinha feito isso direito na escola pública).

Daí então, já voltando para as aulas da sétima série, acabam me ligando para avisar que eu passei. Não sabia ao certo como reagir a uma ligação dessas, mas comecei a me arrumar para ver no que ia dar. Não tinha razões plenas para continuar na minha escola antiga (BTW, era uma oportunidade que me mostrava um caminho), então segui em frente.

O ritmo do Objetivo acabou me dando uma boa dose de estudo e trabalhos a mais. Sinto que as minhas médias só foram estabilizando em valores mais altos a partir da segunda metade de 2006, mas não vem muito ao caso.

Logo que entrei, recebi algumas “intimações” do pessoal do ISMART e de algumas coordenadoras para fazer as aulas de olimpíada. Não tinha noção alguma sobre o que elas falavam, o que tinha de estudar ou para onde elas me levariam, mas não era bem um pedido, então acabei assistindo algumas das aulas. Cheguei a fazer tudo até a OBA.

Depois da OBA, como não haveria mais provas até o ano seguinte e minhas médias não estavam tão plenas frente ao que o ISMART esperava, apareceu a oportunidade de eu simplesmente parar com as aulas. E escolhi parar.

A justificativa era clara para mim: sentia que só estava correspondendo a expectativas quando cobria minha semana inteira com aulas depois do horário. Por mais de um mês, acabei indo a aulas no sábado de manhã e cobrindo de duas a três tardes do resto da semana, fora as aulas de manhã. Tinha tarefas e trabalhos do colégio para entregar e aulas à tarde para, no mínimo, presenciar.

Nunca cheguei a ter um ritmo tão absurdo quanto aquele na minha vida. Daí parei. O resto já devo ter contado no post anterior: acabei voltando a elas depois das férias, algumas olimpíadas foram dando certo, e cá estou.

Meu início no ITA teve também bastante turbulência. Ainda não estava certo do curso que iria fazer (pensava em fazer Física também), não estava certo da carreira que iria seguir, não estava certo de quase nada.

Precisei de tempo e esforço demais para ter noção plena de que lá era um lugar certo. Por mais que eu perguntasse a pessoas, eu já conhecia as respostas, e daí chegou o “faça o que achar melhor”. E tive de seguir sozinho nisso. E aprendi um pouco entre choros e desesperos (não brinque com isso).

Há uma diferença plena entre curso e carreira. O curso é aquilo que você escolhe num vestibular. A carreira, segundo o Michaelis, é “o decurso da existência”, e quem decide aquilo que nela irá ocorrer é você. Não há certos e errados numa carreira, pois o caminho é você quem faz (ou constrói, não duvide disso).

Enfim, passei por muitos dramas e correrias, mas acabei me decidindo por ficar no ITA (ter ido para lá pode ter ajudado sim). O meu tira-teima foi achar que não seria um bom pesquisador se não seguisse 100% nisso, mas estava errado em achar que a Engenharia (o curso) não me satisfaria nessa trajetória. Fora isso, ficar um pouco mais no ITA me mostrou que há caminhos demais para quem gosta de andar.

Transições são momentos muito bons para você se descobrir, pois há escolhas, chances e oportunidades também. Mas são os momentos de maior pressão para muitos, por motivos semelhantes. Há decisões relevantes, mas não são o fim do mundo.

Aprenda tudo que puder numa transição, pois nela você poderá sentar e refletir um pouco.

Não impeça sonhos ou ambições, mas não bote pressão no futuro. Ele não aconteceu.

E lembre-se sempre de se divertir. Você aproveitará mais sua carreira e sua vida.

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