Um pouco do passado: OPF
Já faz um tempo que eu não escrevo sobre a minha participação numa olimpíada (escrevi sobre a OPM no início do blog). Direi a vocês sobre a olimpíada que me trouxe mais ouros, e a história desta foto. Para muitos dos comentários que farei, sugiro que olhe primeiro o post que fiz da OPM (ele é longo, mas ficou bom, prometo), quando tinha decidido que participaria de Olimpíadas Científicas de fato.
2006
A Olimpíada Paulista de Física (OPF) não foi a minha primeira olimpíada (foi a OBA), mas foi a minha primeira Olimpíada de Física. E isso ainda aconteceu na sétima série, em 2006, quando não tinha tido aulas de Física em momento algum (nem me arriscava a ir para as aulas à tarde).
Na minha primeira participação, não me surpreendi com o resultado: 8 pontos de 20. Não passei nem da primeira fase (de duas). Mas isso já era o segundo semestre de 2006, então meu ânimo para aprender o que eu errei e ver as matérias com mais detalhes estava a mil. Aproveitei o fim do ano para aprender um basicão daquilo que caía na prova (com a prof. Márcia, super legal).
2007
A olimpíada já tinha me intrigado o suficiente para voltar a participar em 2007. Na minha oitava série, já apareciam as primeiras aulas de Física e Química (que também me intrigaram para a OQSP, mas que ainda não estavam na hora certa) no colégio, então já dava para ficar afiado desde o início do ano. Aproveitei também para ter as primeiras aulas à tarde, uma parte delas com o prof. Gromov (quando conheci a Carla Bove – e sua mãe – e a Gabi Ueno – minhas amigas de mais longa data), outra parte com o prof. Guilherme (acho).
No meio do caminho, conheci a OBF, cuja última fase veio antes da última fase da OPF (bem mais tranquila de se atingir desta vez). Em nome da última aula que tive com o Guilherme, aprendi pêndulo simples, e em nome das últimas aulas de Matemática do colégio, aprendi a escrever gráficos. Ambos os aprendizados me renderam uma incrível prata na OBF – os gráficos facilitaram as provas teórica e prática, e o pêndulo simples foi o tema da prova prática (o/).
Em nome da fase final da OBF e da OPF, acabei conhecendo o prof. Ronaldo Fogo. Fui apresentado a uma de suas aulas, que estava REVISANDO temas em geral. Nunca boiei tanto numa aula de Física (mesmo nas aulas do Ardê que via sem querer, eu aceitava mais as coisas). Não voltei a ver mais aquelas aulas em 2007.
Na final da OPF (quando visitei o ITA pela segunda vez – a primeira foi com a Jornada Espacial, quando conheci a Ana Paula da foto), estava empolgado por conta da OBF e tudo mais. No entanto, tive em 2007 um recorde de brancos, erros e péssimas leituras de enunciado exatamente naquela prova. Resultado: NADA novamente. Mas eu esperava que isso acontecesse, mesmo.
A medalha na OBF foi o que eu precisava para continuar investindo cada vez mais na Física, então não desisti nem dela (a qual poderia – e acabaria por – me levar à IPhO), nem da OPF. E sinto que foi uma decisão perfeita.
2008
Foi em 2008 que entrei de cabeça nas aulas de Física após a aula, agora somente com o prof. Ronaldo. Como regra de todos os alunos iniciantes do Ronaldo (mesmo os medalhistas de anos anteriores da OBF e da OPF), você precisava acompanhar e fazer as aulas e folhetos em diversas tardes da semana – e também em sábados e em alguns domingos (?) – para ter um bom nível no final do ano.
Antes da 1ª fase da OPF, ainda nos folhetos de Mecânica, eu já conseguia ter insights sobre aceleração aparente na aula de força resultante. Ele olhou isso com olhos de futuro promissor para o meu lado, e começou a me oferecer folhetos mais pesados (dentre eles, um livro cheio de questões do ITA de Física – eu achei ele muito WTF naquela época).
Na primeira fase, eu estava manjando bizarro, sério. Fiz a prova tendo um controle incrível da situação desta vez. O resultado me surpreendeu incrivelmente: gabaritei a primeira fase. Mais incrível ainda? Após ver as notas com o Ronaldo, descobri que fui o único do primeiro ano do estado inteiro a gabaritar. O Ronaldo já sabia disso na segunda-feira – pois os professores já recebem o gabarito no mesmo dia, então já aproveitam e corrigem no mesmo dia – e já começou a conversar comigo sobre uma tal de IJSO – que, na época, ainda estava selecionando alunos pela 1ª fase da OPF. Ele não falou só comigo, claro: conversou também com o Matheus Tulio – também amigo de longa data – e com a Gabi Ueno.
Não estragarei as surpresas sobre a IJSO, pois ela foi uma divisora de águas em termos de olimpíadas – o meu eu olímpico pré-IJSO e o meu eu pós-IJSO são seres visivelmente diferentes -, mas estava estudando Física cada vez mais – considerando OBF, OPF e IJSO. Fiquei muito mais tardes estudando Física, a ponto de não fazer a 2ª fase da OBM para treinar para as provas experimentais. Era nesse nível.
No fim de agosto, ocorreu a seletiva da IJSO. Já sabia que seria selecionado, de acordo com o Ronaldo, então estudei afiadamente Física, Química e Biologia – naquela época, os livros do Objetivo que usei para estudar já estavam perdendo a capa. Fiz a prova com um nervosismo inevitável, mas com todo o cuidado do mundo. Resultado: 3º lugar geral, e uma vaga na equipe brasileira da IJSO 2008. Foi ultra foda essa notícia, só posso dizer isso.
A fase final da OPF de 2008 foi um mês depois, um dia depois da 2ª fase da OBF (a OBF foi num sábado, a OPF num domingo). Não sei quão útil foi isso, mas fiz as provas do domingo bem mais tranquilo, atentando para enunciados estranhos, contas com vírgula e repetições de experimento. Aproveitei também para conhecer os demais membros da equipe brasileira, como o Gustavo Haddad.
Lembro de ter saído da prova teórica – a última do dia – feliz pra caramba, de tão bem que achava ter ido. Lembro que a Gabi também voltou super feliz de lá, e o nosso grupo de participantes da seletiva da IJSO (o Matheus – que foi comigo para a Coreia -, a Gabi, o Rodrigo Paroni – que também é bolsista ISMART – e eu) foi conversando pra caramba na ida e na volta – eu acabei cochilando na volta, mas foi super legal anyway.
Desta vez, eu tinha maiores esperanças de que meu nome fosse aparecer nos medalhistas, pois a OPF libera esta lista antes da premiação – pois eles colocam o seu nome atrás da medalha. E ele apareceu, junto com o da Gabi e de diversos outros amigos. Foi muito daora, e isso porque não tinha nem ido para a IJSO.
Na premiação, lembro que a Gabi pegou medalha de Prata – um dos momentos mais felizes ever para ela, eu lembro – e eu peguei medalha de Ouro. Eu fiquei feliz pra caramba, pois já tinha voltado de uma conquista incrível da IJSO – como mostrado na foto, consegui uma Prata muito linda – e concluiria minhas conquistas de 2008 com mais esta surpresa.
Ah, história da foto: a Ana Paula foi uma das amizades que fiz quando fui à São José dos Campos em 2007 por conta da I Jornada Espacial, evento proporcionado aos melhores participantes da OBA na parte de Astronáutica. Na época da foto, no início de 2009, ela já estava na FEI e não tinha ganhado nada na OPF, mas foi ao ITA só para rever os amigos (awn).
2009
Desde que tinha visto meu nome na lista de premiados da OBF, logo que voltei da IJSO no fim de 2008, já tinha começado a estudar Física bizarramente – eu queria ir para a IPhO. Ficava a maior parte do tempo, agora em 2009, com o Bruno Arderucio e o Rafael Parpinel – os melhores monitores que poderia ter na vida -, e pensava em Física praticamente 24/7.
A OPF já não trazia mais internacionais no meu futuro, mas era uma competição estranha em todos os sentidos. Ainda nem falei dela direito, mas sinto que este é o melhor momento para isso. Vamos lá.
A OPF tem uma 1ª fase nada absurda, relativamente justa com seu gabarito e num nível justo para cada série – desde a 5ª série do EF até o 3º EM, cada um faz a sua prova. A 2ª fase dela costuma(va, pelo menos) ser bem aleatória, ao menos para mim.
O pessoal do EF tinha questões teóricas bizarras – “Como obter água num deserto?” -, e nas questões do EM, quando o enunciado não falhava ou pedia detalhes demais – como DERIVADAS super estranhas -, tudo tinha conta com mais de três ou quatro casas decimais, e isso multiplicando e dividindo – sem usar calculadora.
Na 1ª fase, acabei gabaritando novamente. Foi daora.
Na 2ª fase, fiz a prova com o máximo de cuidado. Lembro também que estava num dos momentos em que mais sabia Física do meu EM, então não ligava de ficar na sala até o fim da prova quando todos já tinham saído da minha sala do 2º ano, pois revisar aquelas questões foi algo muito necessário – a prova do 2º ano estava bem mais difícil que a do 3º ano.
Por algum momento, achei que tivesse fechado a prova. Não fechei, mas consegui medalha de Ouro e obtive a melhor nota do EM inteiro (algo em torno de 98 pontos de 100). Fui descobrir depois que, na questão com o enunciado mais estranho ever da prova do EM, eu tinha sido a única pessoa a acertá-la completamente. Achei isso bizarramente foda
Não obtive a Medalha César Lattes, pois, naquele ano, ela ainda tinha como regra que o melhor aluno do 3º ano do EM iria recebê-la (tinha conseguido 3 pontos a mais que o ganhador da César Lattes). Mas sinto que a Malu discutiu bizarro com o Marim e a organização para mudar esta situação. Nisso, algo mais justo – e legal – foi determinado para 2010.
O melhor aluno do EM ganharia a Medalha César Lattes, e o melhor aluno do EF ganharia a medalha Shigueo Watanabe – criador da OPM (se você gabaritar a prova, você agora ganha um troféu de “gabaritador”). Antes, as melhores notas poderiam não receber nada mais do que um outro certificado – como foi o caso de 2009. Livros e prêmios bonitos ficavam só para os medalhistas especiais. Achei estas novas regras perfeitas.
2010
Em 2010, fiz a OPF depois da IPhO – de onde voltava com medalha de Bronze. Já não tomava nenhuma olimpíada nacional com tanta seriedade, mas foi um ano com recorde de participação olímpica – deem uma olhada no meu histórico depois. Na época da OPF, já não lembrava como usar as leis de Kirchhoff num circuito SIMPLES.
Não gabaritei a 1ª fase desta vez – por uma questão. Em teoria. Discuti o gabarito com o Matheus, que desta vez tinha gabaritado, e ambos concordamos que a questão que estava diferente para nós – sobre Relatividade Restrita – aparentava dar num gabarito que batia com a minha prova. Na prática, não mudou muita coisa para a 2ª fase, óbvio.
Na 2ª fase, eu me achei bem mais burro do que em 2009, mesmo tendo voltado da IPhO. Duvidei que, se viesse medalha, viria muita coisa. No entanto, como o Lucas Colucci, que foi comigo na IJSO, acabou dizendo uma vez: “A única coisa que se espera da OPF é que o Cássio ganhe ouro”.
Acabei ganhando o terceiro ouro na premiação em 2011 (droga!). Para minha surpresa total (sério), ganhei também a Medalha César Lattes, tendo tirado 92,5 de 100 (eu disse que estava mais burro). De novo, achei este resultado super foda. Ah, e ganhei dois livros novinhos do Halliday (conto nos dedos quantos dos meus livros não são xerox). Foi uma tarde sensacional aquela (também porque depois começava a minha primeira semaninha).
A OPF é bizarra (pelo que pude acompanhar nestes últimos anos, ela continua sendo). Ganhei medalhas por usar de extrema cautela em cada passo que fazia. Ganhava Ouro porque, aparentemente, tomava MUITO cuidado. Mas a OPF me trouxe coisas muito boas.
Foi a OPF a minha primeira olimpíada de Física. Foi por ela que cheguei a minha primeira olimpíada internacional. Foi com ela que peguei meu primeiro ouro numa olimpíada de Física. Foi nela que vi que era realmente bom nesta matéria, a ponto de ser chamado mais de uma vez para receber um prêmio especial, o qual é também a minha medalha mais pesada.
Agradeço por todos os cinco anos incríveis de OPF que tive.