Posts de outubro, 2013

Como funcionam os saltos (Laboratório Estudar)

Posted in Sem categoria on outubro 11th, 2013 by Cassio dos Santos Sousa – 4 Comments

Em nome do meu primeiro post sobre o meu Laboratório Estudar e do meu segundo post sobre como se inscrever, tive vários retornos e mensagens de agradecimento. Fico feliz que este post esteja repercutindo bastante, e fico ainda mais satisfeito por todas as mensagens de agradecimento que já foram enviadas (respondo-as pessoalmente e com todo o carinho).

Quero mesmo que estes posts sirvam de inspiração para muito mais inscrições, saltos e experiências inesquecíveis nas próximas edições do Laboratório Estudar (e também dos LabX, as “edições de bolso” organizadas por ex-participantes do Laboratório Estudar – alguns deles amigos muito queridos e motivados que fiz no meu Laboratório – em cidades que não foram visitadas pela FE).

No entanto, um pedido meio recorrente foi que eu dissesse como funcionam os “saltos” do Laboratório. Nos meus posts, eu chego a falar tanto (e tão bem) deles que devo ter passado meio rápido por eles. Talvez seja porque a potencialidade dos saltos acontece mesmo quando se está no Laboratório – e eu prefira que você se inscreva da melhor maneira possível para aproveitar tudo de uma vez – mas isso talvez seja egoísmo, pois não há segredos nos saltos. E a “receita” deles é razoavelmente simples.

Saltos são desafios que você tem de desenvolver entre os (dois) módulos (fins de semana) do Laboratório, com duração de quatro semanas. Todos precisam propor um salto individual e um salto em grupo (de 6 a 8 pessoas). No Laboratório, os grupos que conseguem realizar todos os saltos (os individuais e os do grupo) têm suas inciativas divulgadas na rede da Fundação Estudar e recebem um convite para conversar com um convidado ilustre (é daora, confiem em mim).

Mas o que tem de tão especial neste salto? Na minha opinião, há duas coisas que potencializam eles.

Um deles é o prazo limitado acompanhado de um prêmio valioso. Se há prazo, você sempre vai se preocupando mais conforme o tempo passa. Se há prêmio, os mais competitivos certamente serão desafiados. Isto é próprio do Laboratório, e você só percebe isso quando está participando de um, mas depois mostrarei uma forma de trazê-lo para uma realidade fora do Laboratório.

O segundo e mais importante (por não depender do Laboratório) é o nível do desafio. Como disseram para mim, é necessário dar “um passo maior do que a perna”. O salto deve ser escolhido, preferencialmente, dentre uma das tarefas que você sempre quis fazer, mas que você nunca conseguiu concluir, ou que tiraria você da sua zona de conforto.

Exemplos: um salto individual muito legal no meu Laboratório foi o envio de presentes a crianças carentes que mandam cartas aos Correios para o Papai Noel na época do Natal. O meu salto em grupo envolveu a criação de uma iniciativa que motiva o empreendedorismo em Escolas Públicas do Ensino Médio em Poços de Caldas, tentando passar uma mensagem que “queríamos ter ouvido” nesta época escolar, um dos que mais repercutiram no segundo módulo (com a criação de camisetas e tudo mais).

O tempo do Laboratório pede que os seus saltos consigam ser concluídos dentro das quatro semanas. No entanto, não há mais segredos a partir daqui: não pode acochambrar, não pode ter (muito) medo, não pode ter preguiça.

Outra pergunta que recebo bastante: “Mas será que eu consigo realizar estes saltos mesmo?”

O que eu respondo: consegue sim. Você vai precisar se organizar (para levar a faculdade junto, por exemplo), vai precisar ajustar um pouco suas prioridades (principalmente perto do deadline, as coisas irão apertar) e vai precisar suar a camisa. E muito. E precisará de bastante empenho também. Mas é possível concluir os saltos.

Se estiver para acabar a faculdade, sua cabeça será so TG/TCC (você quer se livrar logo dela). Vi muitos saltos relacionados a apresentações, conclusões ou impulsos muito fortes a estes trabalhos, com alguns temas realmente desafiadores, como mudanças do método de ensino na Engenharia e a apresentação do Estudo do Caos aplicado ao Empreendedorismo. Muitos destes saltos foram concluídos sim, e os que não conseguiram chegaram bem perto.

Mais ainda: se não quiser (ou não tiver como) participar do Laboratório, proponha-se um salto. Dê a si mesmo um tempo pequeno (algumas semanas ou pouco mais de um mês) para conclui-lo, mas dê um prazo para acabá-lo, e dê um passo maior que a perna mesmo. Eu decidi terminar um artigo razoavelmente grande sobre Gravitação daqui até o feriado de 2 de novembro, e você? Mande aqui nos comentários.

Se decidir fazer um salto por conta própria, proponha-se um prêmio à altura. Para mim, será tirar o dia seguinte para descansar.

Sobre os saltos, é resumidamente isso. Se você se interessou pelo Laboratório e, por meio dele, chegou até este post, inscreva-se logo. Se você não pretende participar do Laboratório, comento aqui sobre uma forma eficaz de sair de sua zona de conforto.

Outra pergunta (esta para quem está ou pretende estar no Laboratório): qual seria outro post interessante sobre o Laboratório?

Quantas pessoas ganham com um prêmio Nobel?

Posted in Sem categoria on outubro 6th, 2013 by Cassio dos Santos Sousa – Be the first to comment

Medalha do Prêmio Nobel

Nos dias seguintes, serão entregues, nesta ordem, o Prêmio Nobel da Física, da Química, da Paz, da Economia e da Literatura. Não entro no mérito de julgar o nível da pesquisa, do trabalho ou do ativismo social das pessoas nominadas ou laureadas, pois só você já ser cogitado a ganhar um destes prêmios já faz do trabalho de sua vida algo muito mais relevante.

No entanto, comecei a pensar o que aconteceria se um brasileiro ganhasse um Prêmio Nobel. Mais ainda, comecei a pensar em quantas pessoas, diretamente ou não, são afetadas por um prêmio destes, isto é, quantas pessoas (contando com o laureado) “ganham” com um prêmio Nobel vindo para o Brasil?

Pense, por exemplo, no brasileiro mais aclamado para um Prêmio Nobel hoje, Miguel Nicolelis. Se ele ganhasse um Prêmio Nobel amanhã, quantas pessoas se beneficiariam dele?

Pensemos, inicialmente, na trajetória dele. Ele estudou num colégio particular, foi para a USP fazer Medicina, e lá fez sua graduação, mestrado e doutorado. De lá, ele acabou indo pesquisar fora do país, e hoje lidera o time de pesquisa de Neurociência na Universidade Duke. No entanto, ele já fundou um Instituto de Neurociência em Natal-RN, e tem toda uma história sobre a Copa do Mundo de 2014.

Se ele ganhar, o país ganha, e pode “se gabar” com os demais a respeito disso. O governo ganha moral com a pesquisa dele? Bem pouco, pois o que ele produz já não está no Brasil há algum tempo. No entanto, isso trará uma pressão muito sobre o governo para investir nas carreiras científicas, pois o único pesquisador brasileiro com um Nobel não pesquisa aqui. Duke, no entanto, ganhará muito mais respeito com um pesquisador laureado liderando as pesquisas da área.

Todos os lugares onde ele estudou ganham, e também podem “se gabar” bastante com isso, pois será uma competição sem adversários. O colégio, sendo particular, explodirá de pessoas se inscrevendo para estudar lá, desde o maternal até o cursinho pré-vestibular. A USP, considerada a maior universidade do país por vários rankings, certamente se aproveitará bastante disso no próximo vestibular, e muito provavelmente terá insumos para investir na área de pesquisa do Nicolelis, também, se já não está fazendo.

Tabloides e revistas científicas (ou nem tanto) investirão pesado em notícias sobre ele. Farão matérias de revista inteira, falarão sobre o futuro da Neurociência no país, falarão sobre a Copa do Mundo, falarão de tudo que ele já falou e caçarão tudo que puderem sobre a vida dele. Por pelo menos uns dois meses, você verá Jornal Nacional, Fantástico, Globo Repórter, G1, Terra e todo tipo de divulgação fazendo (ou copiando) uma matéria sobre ele. Ele será levado ao status de celebridade da noite para o dia, mas isso não é necessariamente vantajoso. Comecei a ver no Marcos Pontes (iteano, por sinal), por exemplo, que ter sido Astronauta foi uma barra muito alta que ele ultrapassou, e tudo que ele fez a partir do seu retorno foi menos, talvez até ignorado pelo resto do Brasil e do mundo.

O resto da sociedade científica brasileira só ganhará se este Nobel fizer a pressão positiva na Ciência, desmotivada há anos. Um pesquisador na Medicina ganhará muita moral, mas e as outras áreas de pesquisa? É bem possível que haja um boom de inscritos em áreas Biológicas, mas e Física e Química, que nunca tiveram um Nobel, receberão mais inscritos? Quando prestei vestibular para Física na FUVEST, a nota de corte do curso estava entre as mais baixas.

Penso também na Olimpíada de Neurociências, a Brain Bee (já tenho dados e alguns insumos para escrever sobre ela, mas falta ainda um pouco de tempo). Se ela se aproveitar da situação junto aos tabloides, ela irá ganhar um número recorde de inscritos (duvido que ela ganhe da OBMEP e seus mais de 20 milhões de inscritos todo ano, mas pode se aproveitar dos olímpicos da OBB e da OBQ), podendo até ter a presença da Presidente em sua abertura/premiação, assim como acontece com a Olimpíada do Conhecimento/OBMEP. Mas será que ela terá mais moral (não mais inscritos, mais moral) que as olimpíadas tradicionais? A área certamente terá um boom de pesquisadores em feiras de Ciências como a FEBRACE, mas será que ela leva os olímpicos para ela também? Será que um olímpico de uma área próxima irá mesmo ganhar indo para a Brain Bee?

Enfim, estes são os questionamentos que, em algum momento, aparecerão pouco tempo depois do anúncio do prêmio. Muitos desafios serão levados ao governo (se o laureado não pesquisa aqui, a pesquisa aqui não anda tão bem. Será que agora é hora de investir na Ciência, e trazer outro Nobel – e sua pesquisa – para cá?), muitos pesquisadores verão uma nova barra surgindo (tudo bem se sua pesquisa ganhar um prêmio Nobel, mas será que você consegue superar o primeiro deles?), muitas universidades verão uma barra semelhante surgindo para elas (será que a pesquisa daqui tem moral para trazer um prêmio Nobel? Será que o maior número de inscritos no meu vestibular, que agora buscam ser cientistas, será bem recebido e terá suas necessidades supridas?), e muita coisa nova – boa ou ruim – acontecerá.

Se não for neste ano, ainda aposto num futuro não muito distante no qual um brasileiro ganhará um Nobel. Muita gente poderá ver vantajem nisso, mas este prêmio trará muita pressão. Será na forma como esta pressão for guiada em termos de desenvolvimento que você de fato verá que o país todo ganhou com isso ou não. A carreira de cientista está bem defasada no país, e as fugas de cérebros para universidades em países que consigam apostar mais alto já não é mais alerta, é sintoma.