Mas haverá mesmo OBB em 2014?
Uma notícia presente na Folha Dirigida datando de 19 de dezembro de 2013 trouxe ao mundo olímpico uma triste surpresa: o CNPq, órgão responsável por financiar cerca de 80% da OBB, decidiu suspender as verbas destinadas à olimpíada este ano. Como a olimpíada trabalha sobre inscrições gratuitas, diversas fases da competição estão comprometidas, e a olimpíada, apesar de já estar com inscrições abertas há algum tempo, pode nem mesmo acontecer em 2014.
A revolta do pessoal do grupo de apoio do OC foi imediata (até uma petição já foi feita). Quando fui repassar a notícia na fanpage do OC, acabei deletando a primeira versão. Como a ação de muitas pessoas que concordam com alguma notícia no Facebook é curti-la, não faria sentido curtir uma notícia triste. Então, acrescentei o seguinte parágrafo, em nome desta primeira reação de muitos:
Toda olimpíada nacional já consolidada tem seu apelo, seu público e sua relevância. Tomar qualquer uma delas como não-prioritária é ignorar todo o crescimento de milhares de alunos que a fizeram e que cresceram por conta dela.
O que disse acima não é mais novidade ao mundo olímpico. Meus próximos comentários, muito possivelmente, também não.
A OBB já trabalha com pouca verba há muito tempo. Se vocês virem as equipes brasileiras da IBO ao longo dos anos, você verá que não houve participação brasileira em 2007, e o motivo presente no site foi a falta de verba. No ano retrasado, acompanhando um pouco da jornada do Ivan em sua ida à OIAB, vi que, se não fosse pelo financiamento dos colégios dos alunos envolvidos (Objetivo inclusive), não haveria time para aquela Ibero. Isso já acontece há bastante tempo, e a necessidade de financiamentos externos assim já passou a ser dependência.
Chamar qualquer olimpíada nacional consolidada de “patinho feio” e não financiá-la por falta de prioridade (ponto apontado na notícia pelo CNPq) é besteira. Qualquer motivo além da falta de verba (a qual também é questionável, já considerando fora a verba para Copa e Jogos Olímpicos) é besteira, ou facilmente refutável.
A prova é muito difícil, e pode estar incentivando poucos alunos a perseguirem a Biologia, a Medicina ou áreas do gênero? Quando procurei pelos primeiros participantes da IBO, vários deles acabaram cursando Medicina, e alguns amigos de colégio faziam apenas a OBB em nome dos cursos que queriam fazer, os quais dependiam da área. Outro motivo: a OBM, a olimpíada nacional mais difícil para alguém que só tenha conhecimentos de sala de aula, deveria então sofrer até mais por conta disso, e sua verba não parece ter sido cortada (ainda).
A Biologia não é (mais) uma área prioritária para o país? Para mim, toda prova que avalie o Ensino Fundamental ou Médio, ao menos em termos de padrões internacionais, pede (ou deveria pedir) Ciências como avaliação separada de Interpretação de Texto e Matemática, e Biologia é a base das aulas vistas desde os primeiros anos do Fundamental. E pelo que vi nas notas do PISA, a nota do Brasil em Ciências não é muito melhor do que as demais. Achar que apenas Português e Matemática devem ser prioridades é uma mentalidade antiquada pra caramba, e se o país ainda precisa dar atenção nestas áreas, então o problema pode até ser maior, mas duvido que a investida correta devesse ter sido feita em cima de uma iniciativa em Educação.
Acabou o dinheiro para Educação? Como bem lembrado por alguns dos meus amigos, o Ciência sem Fronteiras (CsF) se propôs a dar um bilhão para financiar diversos alunos, alguns dos quais pouco fazem para merecer a bolsa que recebem. Alguns realmente fazem até mais do que a bolsa pede, isso eu não posso negar, mas dado que o programa diz ter vaga sobrando (a ponto de abrir novas inscrições por conta do número de bolsas – dinheiro – que eles se propuseram a investir), então há dinheiro.
Estou tentando uma bolsa no CsF sim, e já até cheguei a comentar isso em algum dos outros posts (e não, não penso em fazer pouco desta bolsa – se é para sair do meu país, que seja para algo muito foda). No entanto, se for para ver a OBB acontecer, deixaria de ir tranquilamente, se fosse para esse dinheiro ser investido diretamente na OBB.
Já vi olimpíadas nascerem e morrerem no meu Ensino Médio. Não cheguei a ver uma olimpíada nacional morrer. Se a OBB deixar de acontecer em 2014, então esta será uma punição exemplar às demais olimpíadas que teimarem em existir. O país tem outras prioridades, investir em Educação é algo muito caro, e o mundo olímpico não é prioridade. Xeque-mate.
Se algum órgão capaz de investir dinheiro na OBB ler esta notícia, peço que, pelo menos, considerem ajudar a X OBB. Se ela, como olimpíada nacional, já respira com dificuldade para trazer bons resultados ao país e preparar alunos para a Biologia com maestria, é porque ela tem de existir.
Aposto diversas fichas que, mesmo sem esta verba, sim, ocorrerá a OBB 2014. Cortar verbas será como cortar seu oxigênio, mas a OBB, como todo bom ser vivo, pode acabar se adaptando, até mesmo aos ambientes mais inóspitos. É esperar para ver.
É isso ai cara. Eu não participarei da OBB mas mesmo assim ajudarei no que eu puder para fazê-la acontecer.
A OBB merecia uma sacudida dessa do CNPq infelizmente.
Pouco se mexe na OBM, OBF, OBQ (essa até deu uma deslizada no ano passado grotesca), pois são processos, mesmo que antigos, os quais a lisura, o comprometimento da organização em pouquíssimos casos foi colocado em questão.
Não é de hoje que a OBB, mesmo que no seu importante papel nos presenteia com lambanças homéricas nas divulgações dos resultados. Sabemos todos que a organização nacional, os participantes são, frequentemente, vítimas de coordenadores locais mal intencionados.
O que dirá da fraude que houve há uns anos com as notas ds uma escola da PB? Ou o coordenador do RN que esqueceu de enviar os cartões de resposta e deixou alunos de fora da classificação para as Internacionais? Até o acaso maltrata, às vezes, a OBB com o problema dos cartões do DF na última prova.
Às vezes, uma balançada desse gênero, sirva para refletir.
Vale o ponto comentado, Lucas. A organização da OBB é, dentre as nacionais, a que funciona com mais problemas. Muito ainda precisaria ser otimizado, mas eu prefiro pensar que, dado que ela tinha de existir, a sua organização está fazendo o melhor que pode com os recursos que ela já tem. Vi um pouco do que você disse quando o Ivan foi à OIAB, e a dependência de financiamento de colégios para as fases mais próximas das competições internacionais pode sim enviesar a ida de alguns alunos para elas.
Por mais que uma competição não queira, ela pode acabar sendo “monopolizada” por um colégio ou outro que encontra a fórmula correta para enviar seus alunos. No entanto, prefiro pensar que, se há uma fórmula para ganhar, todos podem descobri-la e concorrer tendo as mesmas chances, e o mundo olímpico é um bom lugar onde esta fórmula pode mudar. Se a OBB renascer, torço para que ela volte renovada nestes pontos que você comentou.
Que sacanagem! Não fazem muito esforço para criar iniciativas educacionais e quando temos pessoas “não-governamentais” fazendo um trabalho (que eles deveriam/poderiam estar fazendo) não têm nenhuma disposição para ajudar. Vou tentar achar um patrocinador para a OBB e mandar alguns emails. Sempre tem alguém querendo financiar coisas boas. Numa dessas, às vezes a pessoa tem dinheiro sobrando e nem sabe o que patrocinar heheh.
Apoiado, Ana. É bom que a situação da OBB seja divulgada e atendida. Daí então é esperar pra ver.