Valorize-se

Tentar pensar nas coisas boas que aconteceram durante um período difícil de grande duração. Não digo coisas de alguns minutos ou de algumas horas, como uma batida no dedinho ou um dia ruim. Estou falando de coisas que durem pelo menos um mês, um ano ou mais de uma década. E nem sempre você sabe que passará por eles no seu caminho.

Lembro que meu primeiro ano do ITA foi um dos mais chatos e tumultuados pelos quais tive de passar. Fora toda uma adaptação a uma nova cidade e a novos costumes, tive de fazer CPOR, que acabou sendo a experiência de maior desagrado que já tive. E isso tendo de adaptar horários, estudar assuntos completamente novos e mais um grande conjunto de mudanças. E toda mudança exige esforço, e talvez várias noites refletindo e desabafando para Deus e o mundo.

Sem dúvida, o que eu passei de ruim durante este ano pareceu durar tanto que achei que nunca iria acabar. E isso esteve alinhado com boa parte da minha turma. Caminho muito tenso mesmo.

No entanto, fiquei intrigado com algumas conversas que ouvi de pessoas que não acreditaram ter obtido coisas altamente valorizantes durante períodos difíceis de suas vidas curtas. Isso é errado.

Não digo que toda atividade que você faça terá necessariamente um lado bom ou aproveitável, pois estamos abertos ao inevitável, e ele pode ser desagradável demais para reflexões. Mas acho muito difícil que, durante um período muito grande, por mais tortuoso que tenha sido, você não tenha passado por algo bom.

É como se a natureza humana se proibisse de passar somente por coisas chatas, ruins e desagradáveis. A vontade de fazer algo relevante, alguma hora, é maior do que o drama.

Durante este meu primeiro ano (2011), aprendi a morar fora de casa durante a maior parte da semana, o que também me mostrou como é morar longe da família e frente a pessoas e costumes completamente novos. Pode parecer muito ruim no início, mas esse tipo de distância faz com que você valorize muito mais o período em que você está de volta ao lar doce lar, e tira do seu dia-a-dia a necessidade do mimo e da proximidade, sem diminuir o amor e o carinho que todos já sentiam por você. Ao voltar para casa, no entanto, ele apenas aumentava.

Vivi um ritmo diferente, e com isso tive de lidar com notas não tão altas como antigamente. E nisso vi que meu ritmo de estudo não estava adequado para as aulas e para a avaliação que tinha, e que não dava para me manter no vermelho ou passando na risca por mais tempo. Sempre valorizei notas e currículo acadêmico, e havia muitas portas que não poderiam ser fechadas por puro desleixe. Se minha vida acadêmica estava organizada, levava menos preocupação em atividades extracurriculares ou em fins de semana, o que era uma bênção.

Em termos de aulas extracurriculares, não sentia ainda que me encaixava em coisa alguma. Seja na empresa júnior, seja na AIESEC ou no que fosse, eu não sentia que estas coisas encaixavam. Até que apareceu a oportunidade de um grupo de teatro, coisa nova que surgia, e decidi entrar. Nunca tinha me sentido tão feliz naquele ano. Senti que estava mais solto, que havia menos vergonha em falar, e que não estava errado em gritar e realmente me mexer ao fazer as coisas. O grupo parou, mas nunca senti ter aprendido tanta coisa boa de uma vez.

E, entrando na faculdade, parecia que as olimpíadas e competições científicas acabariam por lá. Ledo engano. Havia a OBM, formei um time para a University Physics Competition, e claro o OC. Posso não ter ido tão bem nestas competições, mas reaprendi muito do que estava fazendo (todo troca de nível olímpico pede também uma nova e grande dose de treinamento e adaptação de estudo, sem dúvida), e ajudei o resto do pessoal a guiar páginas e posts mesmo estando distante do grande meio em que estava previamente inserido.

E isso tendo o CPOR toda segunda e uma boa dose de estudo e preocupações com o ITA toda manhã e durante algumas tardes da semana. Dado que toda uma adaptação ocorreu por necessidade, e toda uma vida difícil acabou sendo aceita por conta do trajeto, eu não quis parar o que estava acontecendo, pois eu queria fazer de tudo aquilo uma parte do meu caminho. E tive coisas boas no final das contas.

Não deixe de valorizar as coisas boas que acontecem durante seu dia ou durante sua vida. Muitos se deixam guiar por depressões e choros imensos após terem vivido as maiores conquistas de suas vidas, mas a maior de nossas conquistas é a vida, e ela merece ter todo este valor.

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