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Quietude

Posted in Sem categoria on janeiro 30th, 2013 by Cassio dos Santos Sousa – Be the first to comment

Não sei se é uma impressão só minha, mas há uma naturalidade maior em certas pessoas na hora de conversar. Não digo em termos de eloquência (habilidade de convencimento pela fala, para mim, acima do normal), o que eu considero uma das coisas mais incríveis em certas pessoas (que nunca treinaram para isso). Não digo em termos de uma conversa entre amigos de longa data (na qual um quer mais é que o outro fique quieto). Falo de conversas normais entre duas pessoas feitas sem compromisso ou até sem necessidade, algo que não se pode prever nem treinar com antecedência.

Nesse tipo de conversa, eu consigo ver de modo bem melhor se uma pessoa é mesmo de falar ou não. Eu sei, a princípio, que eu não sou de conversar. Adoro rodas de amigos, adoro conversas com repertório prévio (mesmo um pitch na frente de uma banca de jurados vai de boa), mas passo a maior parte das minhas conversas quieto.

Ser quieto não é algo que some assim do nada. Você pode até se policiar, mas isso não é tão simples de mudar. Já vi seres de eloquência invejável que são quietos, e já vi quem conversasse muito bem, mas não falava nada numa roda. E já conversei com alguém quieto, e vi boa parte da conversa se perder num silêncio que não deveria existir.

Quem é de conversar consegue, com a mínima noção de uma pessoa, manter toda uma conversa sem perder o fôlego. E ela sempre consegue achar repertório, e uma conversa de cinco minutos vira uma coisa muito mais entretida que dura mais de uma hora. Quanto mais a pessoa for de falar, mais a conversa demora, pois o interesse nela só aumenta. Já tive esse tipo de conversa, e achei incrível.

Mas por que estou falando de quietude? Porque eu, como um ser (por default) quieto, sei que você perde muita coisa quando fica calado.

Não é questão de não querer falar. Pelo contrário, você quer falar muito. Você não quer que a pessoa saia de lá sem você ter dito tudo que queria do jeito que queria. Posso estar me referindo a conversas, mas isso pode se aplicar facilmente à entrevista mais importante da sua vida: por mais que haja um repertório, é uma conversa, e fica sempre melhor se for conduzida assim.

Ficar quieto não é legal, não quando a conversa é relevante. E o que fazer quando isso acontece?

Como disse, seres quietos não vão deixar isso tão cedo, mas dá para se policiar.

Não há conversa inesperada para ambos os interlocutores (se alguma delas deu essa impressão, lembre os motivos de ela ter acontecido). Se você for abordado inesperadamente, a pessoa provavelmente terá, no mínimo, um motivo para conversar. Se você for abordar alguém, vá preparado com aquilo que precisa ser falado.

Veja também se a quietude não é apenas questão de timidez. A timidez é uma coisa muito mais tranquila de lidar, pois ela costuma ser mais um medo do que uma reação natural. Existem jeitos diversos de lidar com esse “frio na barriga” ou medo de rejeição. Eu tenho um que costuma funcionar.

Quando estou prestes a fazer alguma coisa, mas o pensamento presente não é tão favorável, eu tento me imaginar fazendo esta coisa (como um discurso). Se ela for rápida (como uma injeção, por que não?), tento me imaginar após a coisa acontecer. Se eu consigo pensar nesta coisa acontecendo, eu consigo imaginar, pelo menos, como ela vai começar.

Daí, respiro um pouco mais profundamente, ignoro todos os pensamentos negativos que eu tiver, desligo meus pensamentos, e vou. E só tento religá-los quando a coisa de fato começar (ou acabar).

Ser quieto é uma coisa ruim, eu sei. Mas isso não deve te impedir de falar aquilo que você precisa falar. Não gosto quando parece que faltou falar alguma coisa, mas é legal pra caramba quando uma conversa parece ter sido a melhor coisa do seu dia.