Millennium Youth Camp: See you
Posted in MYC on junho 15th, 2014 by Vitória Barim Pacela – 2 CommentsSinto como se os últimos dias tivessem sido um só, afinal, o Sol nunca se punha, e eu dormia uma média de quatro horas por dia. Mas paradoxalmente, já tenho história pra contar pelo resto da minha vida! Citando o meu amigo argentino:
It lasted only a week.
But even if it lasted two weeks, or a month or a year, I would still never get enough of it.
Percebi a receptividade daquelas pessoas logo quando cheguei — vantagem de perder a welcome party: todo mundo vai querer te conhecer no outro dia e lembrar de você; desvantagem: você não vai lembrar de todas as pessoas. Cada grupo tem geralmente dois guias, e eu tive a sorte de ter os melhores guias do mundo: aqueles que perguntam se você dormiu bem e te dão um abraço quando você precisa! Nunca vou esquecer do Samuel, que sabia um pouco de tudo, e que no dia da despedida me levantou até o teto; ou da Aino, que entendia muito sobre o nosso projeto e foi realmente uma guia para todos em Helsinki. Também tivemos muito contato com os guias dos outros grupos: o Victor foi o melhor guia que os brasileiros poderiam ter, ele nos ajudou muito, e tenho conversado e pedido ajuda a ele desde antes de o camp começar. Quanto ao organizador, Saku, ele é o tipo de pessoa que guardo como exemplo a seguir, por ser tão divertido, responsável e genial. O sentimento de comunidade que encontrei é envolvente, todos os MY Campers que estudam em Helsinki acabam formando um grupo de acolhimento e proteção. Eu tinha uma noção muito vaga de como fazer um mundo melhor até conhecer as atitudes e os perfis de cada um.
No primeiro dia fomos ao Kumpula campus e tivemos a cerimônia de abertura, que contou com a presença da antiga presidenta da Finlândia, além do show de um músico não convencional. Quando chegou a hora do almoço, eu pensei que não conseguiria sobreviver por mais 8 dias naquele lugar, mas aquele foi o único almoço que não gostei de todo o camp, os outros tinham muito salmão, batata, salmão, sobremesas gostosas, salmão, camarão e salmão. Ainda naquele dia, iniciamos as pesquisas do projeto, participamos da amazing race of science — oh, tivemos trocentas gincaninhas como aquela, engana-se quem pensa que vai encontrar nerds sedentários por lá… Às vezes eu só queria ficar em uma sala de tomar café do instituto de física, tentando decifrar os infinitos cálculos espalhados nas infinitas lousas daquele lugar — e depois fomos ao Sauna Demo Day, que na verdade não era uma sauna (como todo mundo pensava), mas sim um evento que premiava iniciativas e apoiava o desenvolvimento delas.
Já no dia 5, os grupos visitariam companhias como Nokia e Rovio, enquanto nós do Urban Planning, que não temos companhia, ficamos caminhando nos arredores de Helsinki para captar ideias que poderíamos inserir no nosso projeto. O Rami, um de nossos experts (o único a realmente apoiar e se envolver no projeto), era muito inteligente e estava sempre disposto a compartilhar o conhecimento com nós. Ele também foi o meu entrevistados na última fase, por isso foi ainda mais incrível conhecê-lo.
De volta ao passeio, Helsinki é perfeita e tem vários parques, tanto que dá para comparar com um modelo de “dedos conectados”, no qual é possível atravessar toda a cidade apenas passando por esses parques, que aliás, são um ótimo meio de interação e transporte, há muitas bicicletas e fácil acesso ao transporte público, especialmente trens (a maravilha que deveria existir no Brasil!). Desse modo, não foi difícil realizar a tarefa de chegar ao ponto principal através dos mapas que eles nos forneceram, mesmo que às vezes ficássemos perdidos nas instruções das placas locais, que são dadas primeiro em finlandês, depois em sueco, e por fim em inglês. No final da rota, conhecemos um espaço público destinado principalmente para jovens, onde qualquer um pode frequentar, realizar eventos e fazer a sua arte. A mulher que nos apresentou o lugar era muito simpática e fazia questão de nos esclarecer cada detalhe sobre a história e os novos propósitos da construção; foi muito interessante conhecer todas essas ideias, e até mesmo a preocupação com as cores que representariam o projeto, para que não houvesse nenhuma conotação política envolvida.
À noite tínhamos International Evenings, que sempre começavam com as brincadeiras finlandesas bizarras e divertidas, com o tom de Caesar Flickerman do Velkku, e Olen Lumikkis que nos acompanharão pelo resto de nossas vidas. A apresentação brasileira deixou todos com cara de dançarinos, tanto que era preciso explicar o porquê de a maioria dos brasileiros preferir ficar conversando em qualquer lugar do hotel ao invés de dançar nas baladinhas de despedida. Ainda que muita gente pense que nossa língua seja Espanhol ou Brazilian, muitas pessoas sabem falar alguma palavra em português, como “bom dia”, “boa noite”, “olá” ou “obrigado”, então a partir de agora eu também quero aprender palavras aleatórias de outras línguas, e já tive algum progresso em finlandês, alemão e tcheco. Percebi também que os países subdesenvolvidos/emergentes em geral admiram muito o Brasil e a cultura brasileira, eles ouvem muito da nossa música popular, e tinham umas duas pessoas aprendendo português. Apesar disso, todo mundo fazia piadas devido aos brasileiros serem tão “conectados” (é, usaram uma palavra dessas) e falarem em português quando querem fofocar, hahaha.
Dia 6: fomos pra Aalto University, conhecemos o Design Factory — uma instituição muito legal da universidade, que fez até microfones-almofada que eram jogados para a interação entre público e palco –, mostrei ao mundo o que é uma brasileira jogando pebolim (já que eu não podia fazer o mesmo com futebol ou samba :P), e depois do almoço o meu grupo começou a trabalhar no projeto explorando o campus da universidade: recebemos um mapa para marcar as áreas que queríamos modificar e já começamos a fotografar e pensar nas principais ideias que seriam as representantes do campus, da universidade, e até mesmo da cidade, já que uma das propostas era a de criação de uma identidade — e foi aí que surgiu a nossa obsessão por patos, o lema do grupo era “Basically ducks” 😀 . Depois ainda fomos ao departamento de ciência, brincamos com gases, vimos experiências muito legais (uma dela lembrava o freios magnéticos do IYPT) e aprendemos um pouco sobre o avanço da neurociência.
O dia seguinte foi de trabalho duro no projeto, era bem interessante e difícil trabalhar em grupo quando se trata de humanas… Mas afinal, gastamos mais tempo na escolha do título do que no projeto em si. Tivemos ainda as atividades na selva, que citei no outro post, e então mais um dia working hard no projeto, com uma palestra sobre o cérebro humano e algumas atividades. Até então, as International Evenings já tinham acabado, logo, essas últimas noites foram gastas em uma fogueira com marshmallows e dough, histórias, música, hide & seek finlandês, sauna finlandesa e piscina. 😀
Segunda-feira, dia do gala, fazia exatamente uma semana que eu estava viajando. Não tivemos a tão esperada conferência com Stuart Parkin, laureado do Millennium Technology Prize. O dia todo se resumiu a preparações para o gala e todo o nosso trabalho se resumiu a uma apresentação de três minutos e um poster. Percebi que, desde a publicação dos nossos perfis no MyScience, o gosto pela arte sempre era ressaltado. Quando cheguei lá, algum dos organizadores estava fazendo comparações entre a ciência, o trabalho desenvolvido no MYC, e a arte. Mas no gala, o Velkku me perguntou o que eu estava achando de tudo aquilo e fez um comentário que me chamou a atenção: era como se estivéssemos numa galeria apresentando nossa obra de arte. De fato, estávamos lá, apresentando um trabalho que começou em fevereiro, para embaixadores e pesquisadores do mundo todo. Mas acho que o mais divertido foi ficar visitando e finalmente aprendendo sobre o projeto dos outros grupos Desde o começo, eu tinha me interessado pelo projeto de Energia, mas depois de ler os posters e ver as explicações de cada um, é inegável que de repente eu queria ter participado de todos os grupos!
Unfortunately, chega o último dia. Eu já tinha me despedido do Rami na última noite, com lágrimas nos olhos, portanto, já estava preparada pra todas as despedidas que teríamos que enfrentar. Ao mesmo tempo, a terça-feira também era o dia mais esperado, porque estávamos livres dos projetos e teríamos o dia todo de passeios, em Helsinki e na balsa pra ilha de Suomenlinna, um lugar lindo! Nesse contexto, acho que se encaixa bem uma das trilhas sonoras do camp:
Staring at the bottom of your glass
Um trio formado no camp cantou a música mais fofinha do mundo na cerimônia/festa de despedida! O “Goodbye MY Campers, goodbye my friends… you have been the ones for me” nunca vai sair da minha cabeça nem do meu coração (argh, saiu tão meloso que eu tive que riscar). Após mais alguns depoimentos e apresentações, nossos guias entregaram os certificados e diamantes, e também descreveram nosso grupo. No meu caso, recebemos de lembrança um caderno de mensagens, e acho que foi o melhor presente de todos. Aino e Samuel, vocês são os melhores guias possíveis! <3
Na última noite, nós tínhamos permissão para ficar acordados, então fiquei esperando a primeira turma ir embora, às 4h. Despedidas são muito difíceis pra mim, mas dessa vez tento usar a estratégia da Ping (smiley guide): ela nunca diz “goodbye”, mas sim “see you soon” :). Estou muito feliz por saber o nome e o país de cada um, e por ter conseguido conversar com a maior parte das pessoas (campers e staff), o que eu pensava que era impossível. Tive uma percepção cultual que jamais imaginaria, percebi a diferença de oportunidades, pensamentos e propósitos determinada em cada lugar.
Hoje um menino do meu grupo, Matthew, postou a seguinte mensagem no facebook:
Not looking forward to going back to school tomorrow…
Why couldn’t I still be in FInland with all of you awesome people, MY Campers? I feel like the time of our lives has flown by just as we’d gotten to know each other…
Like they say, this too shall pass.
E agora eu sinto que é a hora de dizer See you!