Além dos Jalecos- Parte 2
Postado em 7 de junho de 2014 por Letícia – 4 ComentáriosOlá, pessoal!
Pra quem não leu meu último texto, eu estava contando um pouco sobre o período de treinamento da OBB em práticas de biologia, oferecido aos 15 primeiros colocados na 2º fase da competição. Sugiro que leiam o primeiro texto antes, para fazer um pouco mais de sentido.
Então, no 2º dia de treinamento de verdade todos acordaram mais cansados porém bem animados para um dia de práticas. Na noite anterior, todos tínhamos lido o “diário” postado pelo Euller sobre o que tinha acontecido nos dois primeiros dias, rindo demais nos corredores com todas as frases divertidas e fotos estranhas das pessoas. Além disso, tiramos alguns milhares de fotos com o jaleco, nos sentindo médicos/pesquisadores ao colocar as mãos no bolso e olhar para o além. Na van, que não cabia todo mundo, nos obrigando a fazer revezamento de quem ia sentado, ou apertando um pouco mais as últimas fileiras, acho que a maioria de nós estava realmente ansioso para descobrir como seria a primeira aula prática, a de espectrofotometria.
Logo chegamos à UERJ, fomos para a introdução teórica, e… aquilo era física. Juro que 90% da aula teórica era física. Eu olhava ao redor e via algumas pessoas que, assim como eu, estavam com cara de “wtf? isso deveria ser algo de biologia”. Mas claro, depois de explicar todos os fenômenos físicos que regiam o efeito da espectrofotometria, o professor passou a aplicação de tudo aquilo à biologia. E aí foi a hora com a qual todos estavam sonhando: finalmente colocar os jalecos e entrar em um laboratório! Com sorrisos bobos e verdadeiros, começamos a ver como a máquina trabalhava e etc. Medimos o espectro de absorção de uma substância, e, teoricamente, deveríamos ter feito o gráfico, porém o tempo não deixou, especialmente pois o trabalho foi atrasado já que uma das máquinas ficou desregulada no meio do experimento (juro que eu surtei por dentro quando a máquina deixou de funcionar direito).
Fomos almoçar, com direito à sobremesa dividida (gordices com a Deborah), e, pra variar, mais selfies. Dali direto até a parte de histologia da UERJ para a análise de lâminas de tecidos. Todos mortos, alguns congelando devido ao ar condicionado, quase dormindo, mas sobrevivemos! (Exceto o Marcelo, professor acompanhante, que dormiu em parte da aula e saiu depois). Ainda assim, foi uma aula bem produtiva, em que pudemos depois analisar e classificar as lâminas nós mesmos. Até o George, meu jacaré de pelúcia, mascote do time, aproveitou para fazer isso.
Voltamos à van, e, mesmo apertados e desconfortáveis, aquilo foi muito divertido. Cantamos músicas aleatórias, muitas vezes até bem bobas, mas foi muito legal. Chegando ao hotel, apenas guardar as coisas e ir jantar. Queríamos comer lanche, então a Cecília nos levou a uma lanchonete. Tudo bem que nós praticamente deixamos eles loucos devido a quantidade de pedidos, mas foi divertido. Enquanto esperávamos sair, fomos a uma praça logo em frente à lanchonete. Acredito que todos voltaram a ser crianças por alguns instantes quando começamos a brincar no parquinho hahaha. Foi muito divertido brincar naquilo de novo depois de sei lá quantos anos!
Voltando à lanchonete, nossos pedidos estavam saindo loucamente e fora de ordem, o que fez alguns de nós ficarmos esperando vendo os outros comendo seus lanches :/. Quem não tinha comido ainda, esperou até o hotel e se juntou ao povo no 3º andar. Foi comer e dormir.
No dia seguinte, fomos fazer algumas das coisas pelas quais mais estávamos esperando, como a PCR, eletroforese e extração de DNA plasmideal. Todos mais mortos de cansaço, mas ainda bem animados. De manhã, aula teórica de PCR, e logo em seguida fomos para o laboratório, onde nos revezamos nas tarefas. Conhecemos os equipamentos, usamos várias vezes micropipetas, e vimos um termociclador, o que acredito que tenha sido novidade para todos, pois um desses é relativamente caro. Com uma material feito anteriormente, preparamos uma eletroforese.
Saímos daquela salinha, alguns com medo de pegar a cepa de E. Coli patogênica por ter esquecido de colocar luvas quando foi preparar a eletroforese (vulgo eu), e fomos almoçar correndo na própria UERJ. Pra variar, estávamos atrasados e a próxima aula começaria logo. Assim que acabamo o almoço, café e guaraviton para continuarmos acordados.
Pequena introdução teórica sobre eletroforese, e fomos rápido ao laboratório. Como seriam duas práticas, dividimos o grupo em dois: um ficaria na extração plasmidial primeiro, e o outro na eletroforese de ácido nucleico, depois trocaríamos. Acho que essas duas foram as práticas mais legais, na minha opinião, com a gente seguindo vários passos de trocar de recipiente, adicionar a solução X, e, especialmente, vortexando nossos tubos (vortexar virou gíria nossa), na primeira prática. Quando fomos trocar de prática, já era bem tarde, e os líderes propuseram que ficássemos até mais tarde, para dar pra terminar tudo. Aceitamos, lógico, queríamos conhecer todas as práticas. Daí meu time foi para a eletroforese, com um dos professores mais legais de lá, fazendo meio correndo mas ok. Enquanto preparávamos o tampão, pipetavamos o DNA no gel e o UV era ligado sem querer (duas vezes!), nós começávamos a pensar que no dia seguinte seria o dia da prova, e o nervosismo começava a apertar.
Como chegamos tarde, ficou meio complicado para sairmos para comer, então decidimos pedir pizza no próprio hotel, e comer no 3º andar. Fomos todos descansar e tomar banho, até que chegaram as pizzas. Só que elas vieram mal cortadas e como não tínhamos nem faca nem pratos ou guardanapos, fomos comendo com as mãos mesmo. E pobres pizzas! Fizemos um estupro coletivo daquelas pizzas, cortando e comendo com as mãos, rindo all the time. Mas foi quando decidimos abrir a de chocolate que a coisa ficou feia. Em 5s não tinha mais nem metade da pizza! A Ana e eu ainda fomos marcadas de chocolate na bochecha e depois que 90% da pizza já tinha ido embora e ninguém queria mais, fomos inventar de tentar comer sem as mãos. Foi altamente divertido!
Dia seguinte, mais sono e cansaço, agora unidos com o nervosismo pré-prova que só fazia aumentar, porém era dia de vermos células cancerígenas, fazendo sua contagem e análise, o que melhorava um pouco as coisas. Na van, milhares de fotos de novo, pois o cronograma era na UFF, o que significava atravessar a ponte Rio-Niterói (linda!). Chegando lá, novamente formamos dois grupos, e foi realmente interessante ver a troca de culturas, as células formando aglomerados, e aprender os métodos de contagem. Porém isso foi bem demorado, o que nos fez ir almoçar 3h da tarde, todos morrendo de fome! No almoço, mímica biológica. Foi bem legal ver o povo (especialmente o Allan) fazendo mímicas que julgávamos impossíveis, e outras que ríamos por saber que poderia ter sido feita de um modo muito mais fácil. Voltamos à sala fazendo uma mímica em dupla, eu e o Allan, de “placa madrepórica”, o que demorou bastante (caramba gente, aquilo na frente da sala era uma placa, não aviso ou qualquer outro sinônimo). Quando voltamos, tinha sobrado pouco tempo, e a gente teve uma introdução a contagem de células com marcadores para diferenciá-las, e analisamos alguns gráficos obtidos.
Podíamos ver que na volta todos estavam tensos, com a prova a algumas horas, mas na van o que se viu foram milhares de músicas cantadas, incluindo o “hino da OBB” (música ruim demais linda que nos acompanhou durante o resto da olimpíada), que eu não lembro bem como ou quando foi criado, só sei que ele foi a música de fundo dos nossos dias. Fizemos algumas paradas em lugares bem bonitos, o que nos deu direito a várias fotos e selfies (sempre).
Voltamos ao hotel só para deixar as coisas e irmos comer. Muitos pediram açaí ou compraram Red Bull para tentar tirar o cansaço do dia e estar acordado para a prova logo em seguida. Por volta das 8h, todos já estavam fazendo os últimos preparativos para a prova, que começou oficialmente às 8h30. Todas as questões, como pudemos confirmar depois, foram tiradas de IBOs e OIaBs passadas, o que nos exigiu um nível bem alto de conhecimento e interpretação. Terminei minha prova por volta de 30 min antes do tempo máximo, o que honestamente me assustou um pouco, e me deixou pensando “eu não posso ter terminado, devo ter errado muita besteira”, apesar de eu ter revisado várias vezes a prova antes de entregar.
Assim que todos saíram, fomos para o 3º andar, mais especificamente para o quarto do Seon, Euller e João Gabriel, fazendo uma festa improvisada de “FINALMENTE PASSOU A PROVA!”. Apesar de nem todo mundo ter dançado, foi bem divertido. A Ana e eu dançamos demais juntas (se é que aquilo é dança kkkk), e foi muito massa ver o Gabriel e o Vitor se soltando e dançando com a gente e o Allan (único que realmente sabia dançar). Só que o quarto em que a gente estava, ficava logo em cima do quarto de um dos professores. Apesar de não estar muito barulhento nos corredores, ele ouvia a gente muito bem, até que ligou para um dos quartos, que tinha as únicas duas pessoas que não estavam na festa, e disse que era melhor a gente parar porque se algum hóspede reclamasse, era passível de desclassificação. Todo mundo ficou assustado, pelo menos por um momento, e voltamos aos nossos quartos. As meninas (eu, Ana 1, Ana 2 e Deborah) ainda foram dormir no mesmo quarto, e, apesar de ficarmos conversando até tarde, não tinha mais nenhum barulho.
Na manhã seguinte, sem desclassificações ou nada do tipo. Fomos para a aula de zoologia, todos incrivelmente cansados pela semana inteira, pela noite anterior e por saber que o resultado final sairia no fim do dia, porém sabendo que dissecaríamos alguma coisa! Logo na entrada da UFRJ, outra coisa boba para nos animar foi um cachorro extremamente gordo. Ninguém conseguia acreditar no tamanho da criatura!
No começo, pequena aula teórica de sistemática, e dali pras bancadas. Começamos dissecando um camarão, dissecação externa. Vimos as estruturas e foi bem legal. Logo em seguida, dissecação de barata. Eu estava altamente nervosa para fazer isso, pois era uma barata, mas depois que eu a abri e vi as estruturas internas, nada me deixaria mais feliz. Eu fiquei realmente dizendo pra mim mesma “eu posso fazer qualquer coisa agora, dissequei uma barata” hahahaha.
Um almoço rápido, e na volta, aula sobre moluscos. O professor explicou algumas coisas com base em conchas, e depois foi preparar os moluscos para nós dissecarmos. Só que um deles ele deixou vivo, e ele se tornou mascote temporário da turma, o Augusto. Nós ficávamos passando de mão em mão e era muito massa vê-lo e senti-lo rastejando. Depois fomos dissecar nossos próprios moluscos, e aquilo é muito difícil! Era muito fácil errar um corte e eles escorregam demais na mão. Apesar de tudo, consegui terminar minha dissecação e ver as estruturas com a ajuda do professor.
Logo depois, vimos a dissecação de uma lula e um polvo, feita pelo professor. Porém, nossas cabeças estavam mais no resultado, que sairia em poucas horas. Era fácil ver o povo comentando “acho que não dá pra mim”, ou “não importa o resultado, isso aqui valeu muito mais”. Eu particularmente concordo com o último, pois esses dias que passaram no nosso treinamento valeram muito mais do que qualquer resultado. Ter passado uma semana com esse povo, rindo, cantando, me divertindo demais e aprendendo com eles, foi muito melhor do que eu podia esperar. Thank you, guys.
Voltamos nervosos, obviamente cantando, já que seria a última viagem de van com todos juntos, querendo aproveitar cada último momento juntos. Chegamos no hotel, com mais ou menos meia hora até a divulgação do resultado. Na hora, todos desceram para o ponto de encontro. Dava pra ver nos olhos e nos gestos o nervosismo emanando de cada um dos presentes. O Oda (coordenador da olimpíada) chegou e começou a falar sobre os dias, as internacionais, essas coisas de discurso normais. Aí disse que ia entregar as provas corrigidas primeiro, depois daria o resultado final.
Recebi a minha prova, pensando “ah, não fui mal”. Mas conforme eu olhava as notas dos outros, percebi que não tinha ido nem um pouco mal, estava até muito bem. Por alguns instantes, pensei que talvez ainda desse para eu ir para a ibero, era possível que eu ficasse em 8º, no máximo em 7º. Aí lembrei da minha nota na 2º fase, e diminuí bem minhas expectativas.
Logo, o Oda foi chamando. 8º lugar: Mário. Na minha cabeça, ao mesmo tempo que ficava feliz por ele, só pensava “Não dá, não sou eu”. 7º lugar: Gabriel. Feliz novamente pela pessoa, mas naquele momento eu desisti de qualquer esperança de conseguir vaga na ibero. Eu acreditava que aquilo era o máximo que eu poderia conseguir. Aí chamaram o 6º, Letícia. Eu não acreditava! Não era possível! Eu estava na ibero de biologia!!! Pulei demais, sorrindo e aquilo ainda não parecia real. Foram chamando os outros, até as equipes ficarem completas. OIab- Mário, Gabriel, eu e a Ana (ou João Pedro), e IBO- João Gabriel, Thiago, Allan e Bruno. A da ibero ainda tem uma indefinição, já que a Ana, outra manina que passou, não tem certeza se poderá ir ou não, sendo possivelmente substituída pelo João Pedro. De qualquer forma, ambas as equipes só tem pessoas que nós vimos serem muito boas, de verdade. O time do Brasil será muito bem representado nas internacionais.
Fomos então para um rodízio de pizzas, com a maioria já sentindo saudades de tudo aquilo. Brincamos mais uma vez de mímica, desta vez uma normal, e foi muito bom. Naqueles últimos instantes juntos, não eramos mais competidores buscando uma vaga, acho que nunca verdadeiramente fomos isso, eramos amigos pra se lembrar, uma verdadeira família da OBB. Acho que eu conseguiria esquecer essa semana, mesmo se quisesse, pois vocês a fizeram ser perfeita. Nos veremos algum dia de novo! (o George também)