Bullying

É triste imaginar que existem pessoas que para se sentirem superiores, tentam ridicularizar e inferiorizar outras pessoas.

Mais simples é entender por que grupos de pessoas agem de tal forma, mesmo que igualmente ridícula e deplorável. Como dito no livro “psicologia de grupo e análise do ego”, por Sigmund Freud —http://193.137.196.115/upload/e_livros/clle000128.pdf — [cerca de 40 páginas, é uma leitura rápida e interessante], quando em grupos, as pessoas perdem a sua individualidade e começam a agir como uma única entidade, que pode ser identificada como grupo. E o grupo, quase que como um ser vivo, fará de tudo para se manter estável, e não se separar, o que significa manter o que uma vez uniu o grupo. Se um grupo se forma justamente para causar dano, seja a uma pessoa ou grupo de pessoas, então será difícil de que tal evento tenha fim, pois o fim disto implicaria no fim do grupo.

Ainda assim é triste escutar a notícia de Amanda Todd, uma canadense que se suicidou por ser vítima de bullying dos colegas. Ela simplesmente não suportava mais a vida, não possuía mais amigos e não suportava mais. Não julguem ela, o instinto de sobrevivência é o instinto mais forte existente em um ser humano — é baseado nele que as técnicas de tortura existem e funcionam. Se ela chegou ao ponto de tomar tal atitude, é por que ela realmente não via outra escapatória.

A história é fácil de encontrar na internet, recomendo o link http://www.nj.com/parenting/index.ssf/2012/10/for_amanda_todd_i_am_a_slutty.html, onde, além do vídeo feito pela jovem, também se encontra as reflexões da repórter sobre o tema.  Uma menina linda, que cometeu um erro: pousou nua na frente da webcam para um estranho, sob influência das amigas. Uma mente imatura, e que caiu na mesma armadilha da mente grupal que depois a condenou. Por estar em um grupo com as amigas, não estava tão atenta a julgamentos, cometendo tal erro.

Depois de algum tempo este mesmo estranho a ameaça e disponibiliza a foto para a escola. Os seus colegas a ridicularizam e se unem nessa ação. Ela se torna uma pessoa extremamente sozinha.

Um dia um garoto lhe oferece companhia, a chama para ir na casa dele, e diz que gosta dela. Aproveitando da tristeza e fraqueza dela, desesperada por uma amigo, ela aceita o convite do menino, que já tinha namorada. Ela dorme com ele.

Semana seguinte, muitas pessoas da escola— inclusive ele, que dormiu com ela— se juntam para expulsar ela de lá. Falam para bater nela, e assim o fazem. Mais uma vez um exemplo de o quão animalesco as pessoas se tornam quando se juntam por um mesmo ideal, quando o mesmo é ruim.

Ela vai para casa e tenta se suicidar. Os pais a levam para o hospital e conseguem a salvar. Ela muda de escola, mas os antigos colegas a perseguem, e de uma maneira ainda pior: dizendo que queriam que ela tivesse morrido, e chamando ela de burra o suficiente para se matar.

Na outra escola, devido a perseguição dos antigos colegas, ela volta a receber bullying, se tornando cada vez mais sozinha. Ela faz um vídeo, em desespero

em que ela conta sua história,  e termina com a frase

I have nobody [eu não tenho ninguém]

I need someone [eu preciso de alguém]

=(

O que parece ter sido seu último pedido, antes de ela se suicidar.

 

As pessoas deveriam ser mais maduras, e perceberem seu limites. Deveriam ser capazes de perceber quando estão agindo por si próprias e não como uma multidão em ódio, e aprender as consequências de suas ações. Por que persegui-la, quando o motivo que ela foi embora era justamente para que todos pudessem ter paz? Mesmo que acreditassem que ela errou, por que não dar a chance de ela também viver?

Adolescentes agindo de forma infantil, agindo da mesma forma que grupos de meninos se juntam para apedrejar animais na rua — ou que colocam bombas em ninhos de pássaros pelo simples motivo que podem. Quantas vezes não vi isso acontecer na minha cidade? Sempre reconhecendo o rosto de cada um e sabendo o nome deles, apenas me sentindo triste pela incapacidade que eles possuíam.

Se eu já recebi bullying?  O suficiente para ter me isolado de pessoas que conhecia e ter me afundado nos estudos, que era a minha maneira de escape da realidade. Se sou quem sou é devido a tudo que já ouve comigo no passado, e se pudesse voltar, não mudaria nada.  Mas ainda assim me dá uma grande tristeza saber que, apesar de toda a beleza do mundo, ainda há pessoas que se focam em detalhes tão mesquinhos para atormentar a vida de outros.

 

————

citação do livro:

Um grupo é impulsivo, mutável e irritável. É levado quase que exclusivamente por seu inconsciente. Os impulsos a que um grupo obedece, podem, de acordo com as circunstâncias, ser generosos ou cruéis, heróicos ou covardes, mas são sempre tão imperiosos, que nenhum interesse pessoal, nem mesmo o da autopreservação, pode fazer-se sentir (ibid., 41). Nada dele é premeditado. Embora possa desejar coisas apaixonadamente, isso nunca se dá por muito tempo, porque é incapaz de perseverança. Não pode tolerar qualquer demora entre seu desejo e a realização do que deseja. Tem um sentimento de onipotência: para o indivíduo num grupo a noção de impossibilidade desaparece.

Um grupo é extremamente crédulo e aberto à influência; não possui faculdade crítica e o improvável não existe para ele. Pensa por imagens, que se chamam umas às outras por associação (tal como surgem nos indivíduos em estados de imaginação livre), e cuja concordância com a realidade jamais é conferida por qualquer órgão razoável. Os sentimentos de um grupo são sempre muito simples e muito exagerados, de maneira que não conhece a dúvida nem a incerteza.

Ele vai diretamente a extremos; se uma suspeita é expressa, ela instantaneamente se modifica numa certeza incontrovertível; um traço de antipatia se transforma em ódio furioso (ibid., 56).
Inclinado como é a todos os extremos, um grupo só pode ser excitado por um estímulo excessivo. Quem quer que deseje produzir efeito sobre ele, não necessita de nenhuma ordem lógica em seus argumentos; deve pintar nas cores mais fortes, deve exagerar e repetir a mesma coisa diversas vezes.

 

———

O mais ridículo é ver as pessoas falando dela como se ela houvesse feito a escolha mais fácil possível, como se qualquer um tivesse a coragem de fazer o que ela fez.  Ela deixou uma mensagem,“saiu da vida para entrar na história.”

Bullying
2 votes, 5.00 avg. rating (98% score)
  1. Marcos disse:

    “How can you “just be yourself”
    When you don’t know who you are?
    Stop saying “I know how you feel”
    How could anyone know how another feels?” Song of Myself – Nightwish

  2. DIEGO HENRIQUE disse:

    Ótimo :)

  3. Matheus disse:

    O Bullying realmente é uma situação muito ruim e constrangedora.
    Depois que li este post e vi a história e o vídeo me emocionei pois algumas
    pessoas são realmente deixadas de lado e meio que esquecidas pelas outras
    e acabam sofrendo por isso. Foi um ótimo post Ivan gostei muito da sua participação no programa da Gabi você realmente é muito inteligente e representa bem o brasil em outro países
    Matheus.

  1. Não há trackbacks para esta página.

Deixe um comentário