Máfia, o jogo das olimpíadas

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Jogo de máfia na semana olímpica 2012, no meio da noite

Ahhh… Máfia. Não sei o motivo que esse jogo é tão popular nas olimpíadas científicas, sejam nas internacionais ou nas nacionais com fase presencial. Mas talvez haja pessoas aqui que não saibam jogar máfia, então vou explicar, e contar um pouco sobre a minha experiência com o jogo :).

Máfia é um jogo de sorte manipulação de pessoas e percepção de padrões. Todo mundo que começa a jogar máfia acha que é um jogo de sorte, mas só acontece isso por não saberem jogar de verdade ainda.

Preparação.

Não há limites de jogadores. O jogo é uma disputa do “bem” contra o “mal”. Na verdade podem haver mais times, mais o jogo padrão é assim:

  1. Uma pessoa será o narrador (também usualmente chamado de deus), ele que distribuirá as cartas e controlará o jogo.
  2. Essa pessoa separa e distribui as cartas que indicarão o que cada um é. De maneira geral, a quantidade de assassinos é aproximadamente a parte inteira da raiz quadrada de participantes (2 se menos de 9 jogadores, 3 até cerca de 15 jogadores, e 4 a partir de então), mas o narrador controla os personagens para que o jogo fique interessante.
  3. As cartas são distribuídas e cada um dos jogadores vê o seu “papel”. O padrão é: os ases são assassinos (ou máfia), o rei é o detetive (ou policial), a dama é o médico (ou anjo), e os números são as vítimas.

Essa é a preparação inicial do jogo. Após isso, o jogo realmente começa.

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IJSO 2010

  • O jogo é dividido em duas partes, a noite e o dia.

Noite.

  1. Durante a noite, todos os jogadores ficam de olhos fechados, e o narrador convida um por um dos principais personagens a acordar.
  2. Os primeiros são os assassinos: “Assassinos, acordem. Quem vocês querem matar”. Os assassinos abrem os olhos e apontam para as pessoas. Eles devem escolher apenas uma pessoa que será “morta”. “Assasinos, podem dormir.”
  3. Depois o(s) médico(s): “Médico(s), acorde(m), quem você(s) quere(m) salvar?”. Ele ou eles escolhem apenas uma pessoa para ser salva. Se a pessoa iria morrer essa noite (pela mãos dos assassinos, psicopata, etc) essa pessoa não morrerá mais. “Médicos, podem voltar a dormir.”
  4.  E então o detetive: “Detetive, acorde. Quem você quer descobrir se é do bem ou do mal?” O detetive, ou detetives, apontam para alguma pessoa. O narrador deve fazer um gesto que indique se a pessoa é da “cidade” (do bem), ou de outro time (assassinos, psicopatas, etc. Do mal). Alguns gestos que costumam não causar confusão são: pessoa do mal –> “atirar” com os dedos, fazer um chifre na cabeça com as mãos, etc. Do bem: juntar as mãos  fazer uma cara feliz, etc.  Também pode ser fazer um positivo e negativo (mas informe o significado anteriormente). “Detetives, durmam”
  5. Caso existam outros personagens, eles também são chamados. Os psicopatas são chamados antes dos assassinos, por exemplo.

 

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IJSO 2009

E então o dia :). Ahh, o dia…

Dia.

O narrador fala:

Cidade acorda. Fulano morreu/ ninguém morreu.

A pessoa morta NÃO revela sua carta. Pelo menos não nessa ocasião. Ela entrega a carta para o narrador, que então guarda a mesma.

E agora vem o verdadeiro espirito do jogo, a discussão. Todo mundo tem o direito de falar durante a discussão do dia, dizendo quem acham que é o assassino e os motivos

Acho que ele é o assassino. Ele está mais nervoso que o normal. Acho que tal pessoa é assassina, pois durante a noite, quando falaram assassine acorde, escutei movimentações aqui. Etc etc

Seja por que você é o detetive, seja por que você quer blefar que é o detetive… Seja por ter percebido padrões de comportamento, ou não, não importa. O importante é salvar a cidade (ou matar ela).

Então, depois da discussão, há a votação. A cidade escolhe uma pessoa para ser morta. Essa pessoa após ter recebido os votos, tem o direito de defesa, e pode falar porque vocês não deveriam matá-la.

Eu sou o médico! Não me matem!

Caso os votos não mudem, a pessoa morre e revela a carta.

Pessoas mortas pela cidade revelam a carta.

E então a cidade dorme, com exceção dos mortos, que podem ficar acordados assistindo ao jogo.

O jogo termina quando todos os assassinos forem mortos (a cidade vence), ou quando houver um número igual de cidadãos  e assassinos (e os assassinos vencem).

E este é o jogo.

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Semana Olímpica 2010

Espera, é só isso? Claro que não!

Personagens extras

Os personagens extras que dão o tempero especial ao jogo :). Eles são muitos, e o narrador escolhe aqueles que forem mais convenientes na hora, e que as pessoas concordem.

Alguns conhecidos:

  1. Psicopata. Ele forma um terceiro time. é inimigo da cidade e dos assassinos. Em geral ele é solitário, matando sozinho, embora possam haver vários psicopatas. Em todos os aspectos é igual aos assassinos (é descoberto pelo detetive, mata um por noite, etc). Por aumentar o número de mortes por noite, é útil quando há várias pessoas jogando, além de aumentar a estratégia do jogo. Costuma ser o valete ou o coringa.
  2. Bomba. Quando a bomba morre, ela “explode” os dois mais próximos dela. Independente do fato da bomba ter morrido de dia ou de noite, sua carta é revelada, e as cartas dos explodidos não.  Ela cria mais estratégia por os assassinos evitarem matar seus vizinhos, e torna o jogo mais rápido, por aumentar o número de mortos. Costuma ser o valete.
  3. Força da cidade. Em geral em número de 3 ou 4, eles acordam durante a primeira noite (Força da cidade, acordem), olham um pra cara do outro e voltam a dormir. Eles não fazem nada além disso, e nunca mais acordam durante a noite. Qual a vantagem deles? Eles sabem que eles são do bem, e portanto não votam uns nos outros. Útil quando há uma grande quantidade de vítimas. Em é representada pelo número 10.
  4. Amantes. Os amantes não são representados por uma carta (!). Durante a primeira noite, logo após as cartas serem distribuídas, o narrador fala “Irei escolher os amantes”. Ele toca em duas pessoas (de qualquer sexo), e elas acordam e olham uma pra cara da outra. A partir de agora, se uma morrer, a outra morre também.  Se as duas forem do bem, elas vencem se a cidade vencer. Se as duas forem do mal, elas vencem quando o mal vencer. Se uma for do bem, e outro for do mal, elas vencem apenas se matarem todas as outras pessoas (se tornando mais um time, uma espécie de agente duplo) na cidade.   Aumenta a estratégia e o número de mortes em 1, caso morram.
  5. Puta. Ela escolhe uma pessoa na primeira noite para ser o cafetão. Se ela morrer, ele morre, e vice e versa.
  6. Padeiro (??). Personagem recorrente nas semanas olímpicas da OBM. Ele faz algum gesto e aponta uma pessoa. Esse gesto seria o “bolo”(?). De manhã, o narrador tem que fazer esse gesto para aquela pessoa. Pode ser uma ameaça, pode ser o que for. Ele é meio cômico.
  7. Bruxa/macumbeira/etc. É igual o detetive, mas em vez de perguntar para o narrador se alguém é do bem ou do mal, ela pergunta para um morto. O morto pode mentir.
  8. Vingador. Quando morre, mata alguém.

Existem vários. Eu particularmente prefiro jogar com II, III e IV.

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Semana Olímpica 2013

Sistemas de votação.

Existem 3 sistemas de votação, cada um com suas vantagens e desvantagens.

  1. Votação tradicional. O narrador escolhe alguém para começar votando, e, indo no sentido horário ou anti-horário, um por um vai votando.  Cada pessoa que recebe um voto levanta um dedo. Os dois mais votados tem direito a defesa.  É a mais provável de você jogar. É organizada mas pode demorar muito para grupos grandes
  2. Votação 2 (não, não tem um nome haha). Todos levantam as mãos ao mesmo tempo e apontam para quem querem matar ao mesmo tempo. Muito rápida, muito desorganizada. É a menos utilizada.
  3. Votação 3. Uma pessoa propõe uma pessoa a ser morta (qualquer pessoa pode propor). Todo mundo que concordar levanta a mão. Se mais do que 50% das pessoas concordarem, a pessoa faz sua defesa, e se não for alterada a votação, a pessoa morre. Rápida e organizada. Torna os jogos muito manipuláveis, pois muitas pessoas vão votar no estilo “maria vai com as outras”.  Gosto desse sistema de votação quando há muitas pessoas jogando (n >20).
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Rio Platense 2011

Dicas para o narrador

A parte mais dificil do jogo é se lembrar quem são os mafiosos para que você possa responder o detetive corretamente. Preste MUITA atenção nos mafiosos. Não faça comentários do tipo, você quer votar no médico?  Não faça menção a sexo, use sempre o masculino ou use apenas o título “Médico, quem você quer….” Não fale, médica, ou a médica, etc.

Narrador, todo mundo que tem experiência consegue perceber a direção da sua voz…. todos sabem que por você ter pouca experiência, no início, que você vai falar com as pessoas olhando diretamente para elas “Assassinos acordem”. E com isso, todos vão descobrir a região aproximada de cada pessoa importante no jogo. Tente falar em direções aleatórias.

Uma história de máfia

Quem me ensinou a jogar máfia foi a Deborah (que foi pra IMO e está agora em Harvard). Ultimamente quando eu jogo, eu ando sendo apenas o narrador (vocês não tem ideia do poder que o narrador tem no jogo! Muahuahuahuahua), mas antes eu participava no jogo mesmo :).

Sim pessoal, como vocês perceberam, eu realmente gosto de máfia, e por isso queria contar um dos meus melhores jogos :). Antes que alguém pense, caramba, o Ivan tem uma memória boa e consegue até lembrar esse jogo, não. Ele foi tão épico pra mim que eu contei ele em um e-mail para uma amiga minha haha, e estou agora traduzindo o e-mail :).

Mas como é um texto meio grande, ele ficará em um post separado. Confira! Meu jogo favorito de máfia :)

Máfia, o jogo das olimpíadas
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