Existe vida depois da IMO

 

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Na minha primeira Semana Olímpica, em 2008, em Fortaleza, no Ceará eu escutei essa frase em uma das palestras: “Existe vida depois da IMO”. No momento eu não entendi o motivo que o “estudande cujo nome nunca me lembro” disse isso, e, para falar a verdade, eu nem pensava no que poderia haver depois de participar de uma olimpíada internacional. A experiência parecia tão “gloriosa” que poderia ser facilmente chamada como auge de uma carreira para mim.

Participar de uma olimpíada internacional parecia algo completamente inalcançável para mim. Eu era o primeiro da minha cidade (que eu tenha notícia) a ganhar uma medalha na OBM, e isso já estava sendo incrível para mim! Lá em Fortaleza eu aprendi a jogar Máfia, aprendi matemática mais avançada do que eu já havia pensado em aprender, conheci pessoas muito bacanas (em especial a Deborah, que agora está em Harvard —  ela que me fez me enturmar um pouco com o pessoal nos últimos dias), viajei pela primeira vez de avião, e pela primeira vez sozinho. Era algo inacreditável para mim.

E apesar de tudo isso já ser difícil de acreditar, eles ainda me disseram que se eu estudasse eu ainda poderia representar o Brasil e viajar para um país no exterior. É claro que ao pensar na viagem, eu apenas pensava nela — o que viria depois dela era algo que nem chegava a existir na minha cabeça. E então disseram “Existe vida após a IMO”.

Eu participei mais um ano da OBM e da OPM, mas eu tratava a possibilidade de ir para uma olimpíada internacional como algo distante, um sonho infantil. Em 2009, na outra semana olímpica, eu decidi que iria tentar ir para uma olimpíada internacional. Minha atitude mudou, e eu comecei a estudar mais. Até que no final do ano eu recebi um email:

17/09/2009 –
Prezado Aluno(a),

É com grande satisfação que informamos os convocados para a segunda fase da IJSO Brasil 2009.

A segunda fase ocorrerá no dia 10 de Outubro, nas dependências da Escola Politécnica da USP, entre as 8h00 e as 18h00.

 

Seguida de diversas informações técnicas. O fato é: eu nunca havia estudado nem um

terço da matéria de física ou química que iria cair na prova. Eu tive que estudar tudo nessas 3 semanas (o que será assunto de outro post).

Eu fui classificado para a IJSO 2009, que iria ocorrer no Azerbaijão em Dezembro.

Eu estudei muito durante o tempo até a competição. Eu estava indo pela medalha, pela competição, para de fato representar o Brasil. Não pensava muito na parte divertida da competição.

Mas, resumindo a história: eu me tornei o participante mais popular da IJSO 2009 e ganhei uma medalha de prata. Voltei para o Brasil. E adivinhem só:

Havia vida após a IJSO.

Eu não havia parado para pensar no que fazer após ela… Mas em uma semana decidi: eu iria tentar ir para a IPhO de 2011. Pesquisei na internet sobre equipes anteriores da IPhO, encontrei o Ivan Guilhon, mandei um scrap pra ele no orkut, ele me recomendou livros e eu comecei a estudar para tentar ir para a IPhO um ano e meio depois.

Eu passei na IJSO, e depois passei na IPhO, IOAA e IOL.

E a vida continuava após essas competições.

harvardClaro, eu mudei, amadureci, cresci…. Passei a morar sozinho, troquei de cidade e de escola, mas tudo continuava. Consegui no ano seguinte uma medalha de ouro na IPhO, e medalhas de prata na IOL, IOAA e OIAB.  Fui entrevistado pela Marília Gabriela e passei em Harvard. Mas nada disso é o auge nem o fim de uma carreira. E existe após…

Mas por que estou dizendo isso? Por que várias pessoas que não me conhecem mas sabem que eu passei em Harvard ou de algum dos feitos anteriores me olham com uma cara de:

“O que você está fazendo? Você ganhou/passou em XXXX. Você não precisa fazer isso, você não precisa fazer mais nada, você chegou no auge!”

Me olharam com essa cara quando me viram dançando numa festa (logo após perguntarem se tinha sido eu o menino que saiu na Marília Gabriel), me olharam com essa cara quando me viram estudando na escola, me olharam com essa cara quando m viram que ainda assim eu estou fazendo vestibulares. E então eu acho que consigo entender o motivo que “aquele estudante cujo nome nunca me lembro” disse na semana olímpica que havia vida após a IMO. Pois realmente existe, mesmo que algumas pessoas o tratassem como se não.

 

Boas festas pessoal!

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