Go, Bulldogs!

Tudo começou no início do ano passado. Não, espera. Tudo começou quando eu comecei a participar do IYPT, ou foi quando eu ganhei minha bolsa? Ou foi quando eu me mudei pra Santos? Ou quando o mundo virou mundo e as coisas começaram a ficar do jeito que são? Eu não sei como começou, mas eu sei como termina agora. Mentira, não está terminando, pode só estar começando agora. Do que eu estou falando? O título deste post dá uma leve dica; mas, se você ainda não entendeu, leia o post até o final, só que já vou avisando que, se bobear, este texto aqui vai superar o maior post da história dos posts.

DSC_8437Acho que todas as pessoas que já passaram algum tempo lendo o que eu escrevo sabem o quanto um torneio em particular mudou completamente a minha vida e como meus três anos de ensino médio foram totalmente transformadores. As olimpíadas em geral, mas principalmente o IYPT, me fizeram conhecer as pessoas mais incríveis, viajar para os lugares mais malucos que eu já visitei e adquirir a maior parte do pouco de conhecimento que eu carrego comigo. Só eu sei o que foram as noites perdidas, as semanas vividas trancadas num quarto com só uma escrivaninha e meia dúzia de livros na minha frente, o desespero pra estudar tudo a tempo. Contudo, mais do que isso, o IYPT fez com que eu me apaixonasse por física e pela pesquisa e com que eu não quisesse mais simplesmente aplicar o conhecimento, mas produzi-lo. Foi assim que, gradualmente, a menina que tinha o sonho de estudar engenharia aeronáutica no Brasil decidiu que tentaria algo maior, talvez impossível: conseguir uma vaga numa das 10 melhores universidades do mundo para se tornar uma grande cientista um dia.

Começaram então as escolhas: vestibular ou application, estudar como louca para o ITA ou me matar para tentar ir para o IYPT de novo e conseguir uma medalha internacional, treinar para o SAT ou estudar para as provas de humanas da escola? Várias e várias delas surgiam conforme 2012 ia chegando. As minhas férias foram assim tomadas por horas lendo tudo que eu podia nos sites de várias universidades e, como não é novidade para ninguém, sendo minha primeira opção o MIT, eu ficava noites inteiras lendo os infinitos posts nos admissions blogs deles, sobre como aquelas pessoas faziam aulas incríveis, como elas faziam mais do que um curso, como elas viajavam nas férias por conta da universidade para estagiar nos maiores centros de pesquisa do mundo, como a vida nos alojamentos fazia parte da experiência universitária delas etc. Eu já estava mais do que decidida; era a minha única chance e eu ia arriscar: eu ia ganhar uma medalha internacional naquele ano seja lá o que custasse e ia me focar nos applications. Caso tudo desse errado e eu não passasse no vestibular, eu poderia tentar de novo, mas eu não me perdoaria se não tentasse conseguir uma vaga nos EUA. Não que eu tenha abandonado o vestibular por completo, no início do ano eu cheguei a estudar 6 horas para ele além da carga pro IYPT e provas diversas. Mas, aos poucos, essas horas foram se tornando mais escassas, conforme os prazos finais de submissão dos applications iam chegando.

Logo no início do ano, eu já teria que prestar o SAT. Aliás, o SAT foi um problema durante o ano passado. A prova de maio coincidia com o IYPT Brasil, a de junho com a OQSP, a de outubro com a OBF, a de novembro com o ENEM e a de dezembro com o TVQ. Acabei perdendo a prova de maio (óbvio que eu não ia perder a chance de ganhar a vaga pra fase internacional do IYPT), perdi a OQSP, dei um jeito de fazer menos matérias no SAT II em outubro, mas quase cheguei atrasada na OBF, não fiz o ENEM (e gosto de falar: eu nunca fiz ENEM na vida! \o/) e fiz o TVQ porque eu não ia perder mais uma prova de química por causa do SAT. Meu primeiro resultado foi ruim, cerca de 1860. Eu entrei em desespero, isso significava que Early Action pra mim não ia rolar (apesar de que eu tentei depois, longa história pra mais tarde). Daí eu prestei o SAT II de Math II e Physics e uuuuhul (!), boas novas, 800 de 800 nas duas e eu saí pulando pela casa. Daí chegou novembro, minha nota no SAT I melhorou muito muito pouco e aí começou a choradeira de verdade. “Eu não vou passar”, “já era”, “o applicant pool brasileiro este ano é incrivelmente forte e tem notas melhores que as minhas” era o que passava na minha cabeça. Foram dois dias pra me recuperar disso com ajuda de gente que não mediu esforços pra me ajudar. :) Chegou dezembro, eu não fiz o SAT e, então, viajei pro Rio de Janeiro, que era o único lugar com vagas, para tentar a minha última chance. Minha nota melhorou consideravelmente, mas nem todas as escolas aceitavam a prova de janeiro, então já era tarde demais para algumas universidades na minha college list.

FE_Prep_Program

Voltando ao início do ano, vagando pelo Facebook da Fundação Estudar, eu descobri o Prep Program, que na época era do Instituto de Liderança do Rio. Resolvi tentar, afinal, não ia me tirar pedaço, só algumas horinhas a mais fazendo essays/formulários/entrevista, e eu ainda poderia conseguir ajuda pra completar meu application. Chegou julho e… passei! 😀 Eu só não esperava que o Prep fosse me ajudar tanto nos últimos meses. Eu tenho certeza que, sem eles, eu não teria conseguido coisa alguma. Foi quando eu conheci a Shen e a Laila e eu sei que eu devo tudo o que eu consegui nos últimos meses a elas duas. A Shen é a minha mentora (the best mentor in the entire Prep Program, just saying haha, os outros mentees que morram de inveja kkkkkk), a pessoa que me aturou com centenas de e-mails falando sobre tuuuudo o que acontecia comigo (minhas notas em provas, relatórios sobre as minhas entrevistas, problemas com meus formulários e até a choradeira depois das notas hahaha) e que revisou cada uma das milhares de versões dos meus cerca de 30 essays. A Laila é a coordenadora do Prep, que me ajudou com mock interviews, dúvidas com os formulários, revisou alguns dos meus essays, me ajudou a orientar a coordenação da escola com os formulários do colégio, me passou diversos materiais de preparação pro TOEFL e pro SAT e por aí vai. Assim, Laila e Shen, eu não sei nem como agradecer as duas. Muito obrigada por tudo!!! You’re the best! 😀

Por falar em material de preparação pra TOEFL e SAT, é… teve mais o TOEFL pra melhorar minha vida. A história do TOEFL foi um pouco mais curta. Um belo dia, eu fiz minha inscrição para fazê-lo (céus, como aquela prova é cara O.o), só que no belo dia que eu tinha que fazer a prova, eu acordei atrasada pra caramba e quase não fiz a prova. Eu cheguei estressada, esqueci de levar lanche, fiquei com dor de cabeça e “tcharam!”, levei um 98 na cara; eu precisava de 100. A prova do TOEFL é fácil, mas eu precisava fazê-la de novo antes da data do Early Action que seria 1º de novembro. Nisso, eu já estava no fim de outubro e as vagas pra fazer o TOEFL eram as seguintes: ou eu ia pro Norte do país fazer a prova às pressas ou eu ia pra Campinas, porque milagrosamente tinha uma única e brilhante vaga pra eu ir. Pois é, isso era uma segunda-feira, eu tinha até sexta para descobrir quais tinham sido os meus problemas e melhorar a minha pontuação. O segredo foi arranjar um jeito de viajar pra Campinas, dormir bem, levar um lanche, ler uns PDFs que a Laila tinha me passado e yaaaay: 110!

Ok, isso era só uma parte, eu também tinha que correr atrás das cartas de recomendação. Conseguir foi um sacrifício… primeiro porque eu tinha que arranjá-las em inglês com professores que falavam português, segundo porque elas são totalmente diferentes daquilo que os professores esperam que seja, tem que ter todo um tom pessoal e falar do aluno como pessoa, como ele interage com a turma etc além da parte acadêmica. A primeira que eu consegui foi do meu professor de humanas, a segunda, da coordenação (que burocracia que foi conseguir meu histórico escolar com a tradução e auxiliar a escola no envio de todos os documentos dela) e a terceira, que eu achei que seria a mais fácil acabou sendo a mais difícil delas. Faltavam 3 dias pra submeter o application pra Harvard e meu professor de exatas ainda não tinha me passado a carta ou acessado o Common Application! Coooomo deu trabalho. Por fim, um dia antes do prazo, carta submetida e eu fiquei aliviada. Eis que então eu recebo um e-mail dizendo em resumo “a carta do seu professor de física não está boa, aparenta que você não se relaciona direito com as pessoas (bitolada nos estudos) e com certeza não vai passar com ela”. Ha! Ferrou, Harvard já tinha recebido aquela carta. Mas, ok, era hora de correr atrás da carta de outro professor de física pra me salvar nas outras universidades e, dessa vez, ela teria que ser muuuuito boa. Foi aí que eu consegui a carta do professor que, apesar de oficialmente nunca ter sido meu orientador no IYPT e torneios correlatos, foi o que mais me ajudou ao longo dos últimos dois anos, mesmo sem receber nada em troca. A carta ficou perfeita! Assim, termino este parágrafo agradecendo profundamente ao Rodrigues pela minha carta de humanas, à Linita pela carta da coordenação, à Sueli e à Ana Paula por me ajudarem na corrida pela documentação, ao Giba pela primeira carta de exatas que eu mandei pra Harvard e ao Gromov pela carta de exatas que eu mandei pra todas as outras universidades. Sem esses documentos eu sequer poderia me candidatar às universidades americanas; então, muito obrigada pelo tempo de vocês!

Claro, tinha também os essays. Lindos e malditos essays. Nossa, como eles roubavam o meu tempo. É por causa deles que eu mal conseguia estudar outras coisas. Sério, se candidatar a uma dezena de faculdades toma um tempo desgraçado! Eu queria que cada um dos essays ficasse perfeito e pensado nos mínimos detalhes. Foi aí que a Shen foi de suma importância. Sorry, Shen, for all the time I took from you haha. Ela estava louca atrás dos vistos brasileiros dela e, mesmo assim, revisava meus essays como nenhum outro mentor fazia. Os essays também foram muito interessantes em outros aspectos… A minha irmã deve ter ficado louca haha; eu fazia ela ler meus textos a cada letra ou vírgula que eu alterasse hahahaha. Thank you, Isabella (tenha certeza que, quando eu for entrar na grad school, vou fazer você ler mais uma tonelada de essays hahahaha). Outra pessoa que leu um ou outro essay pra mim foi a Denise (thanks, Denise! :) ). Mas, no fim das contas, tem outra pessoa que eu tenho que agradecer muito. Obrigada, Ivan, pelas infinitas horas no Google Docs (e pelos comentários psicopatas no meio dos meus essays hahahaha), pelas revisões no meio da madrugada e por ter me aturado esse tempo todo. :)

Vieram também as entrevistas. A primeira seria a do MIT. Eu contatei infinitas vezes ao longo de um mês o meu entrevistador e cada vez menos ele me retornava. Foi então que alguém conseguiu trocar meu entrevistador (obrigada de novo, pessoa :) ). Fui até Santo André fazê-la e a entrevista foi ótima; eu saí de lá extremamente feliz. Aliás, obrigada à Elaine e ao Fernando por terem tirado todas as dúvidas que surgiram em vários momentos ao longo do processo de admissão do MIT (foram muitas, muitas, muitas). Então veio a de Princeton, que foi só em janeiro, e depois a de Columbia, que foi um pouco depois. Nesse meio tempo a Shen me ajudou a escrever meu CV e com uma mock interview antes da do MIT, depois a Laila me ajudou no meio das férias com uma mock interview antes de Princeton. Como a vida é irônica, de todas as entrevistas, eu achava que só tinha ido mal na entrevista de Columbia (e dessas, eu só fui admitida lá hahaha; ok, já comecei a soltar um pouco as novidades). Continuando…

É, como eu tinha dito, eu apliquei Early Action, e como acho que já deu pra perceber, foi pra Harvard. Mas, Bárbara, Harvard era sua primeira opção? Não, na verdade não. Eu apliquei EA pra lá por dois simples motivos: MIT não aceitava EA de alunos estrangeiros e alunos de Harvard podem fazer vááários cursos no MIT. Sim, eu apliquei EA pra Harvard não por causa de Harvard, mas por causa do MIT haha, porque se você for olhar qualquer histórico de conversa de alguns meses atrás, há registros meus falando que eu preferia Princeton e Yale a Harvard, mas que Harvard estava do lado do MIT, então né… haha. (Sim, Princeton, Yale e Harvard estavam “empatados” como minhas segundas opções depois do MIT). E chegou o resultado super animador (só que ao contrário) no dia 13 de dezembro falando “sorry, you were deferred”. Isso significa que eu tinha um perfil que interessava a eles de alguma forma, mas que eles não tinham certeza se eu seria a melhor opção, então estavam me transferindo pro Regular Action, aquele que quase todo mundo faz e os resultados saem em março. Pois bem, eu já estava “muito feliz” com as provas do ITA, que por acaso começaram dia 11 e terminaram no dia seguinte, então aquela notícia foi fenomenal pra mim, me deixou super pra cima! Hahaha, só que beeem ao contrário. De qualquer maneira, eu concordava com quem eles tinham admitido em EA; assim, menos mal.

IMG_1481Como eu escrevi aí em cima, é, nesse meio tempo tive os vestibulares… A carga de provas do fim do ano foi incrível, era prova importante semana sim, na outra… também. Isso se arrastou do início de outubro até o fim de janeiro. Dá para perceber como eu já estava super animada haha, ainda mais com alguns resultados nada positivos chegando junto, fora os applications (formulários, essays e entrevistas) nesse período. Até que… chegou o primeiro resultado dos vestibulares! Minto, não foi o primeiro, mas eu já sabia que eu não ia passar no ITA mesmo, então só tava contando com USP e Unicamp. E yaaay! Passei na Poli-USP! Era só alegria, trote atrás de trote, fui fazer a matrícula e, no dia que eu cheguei da matrícula em casa… uuuuhul! Passei na Unicamp também, dale mais comemoração e por aí foi, por uma semana só haha. Foi quando eu saí de casa e fui morar sozinha, começar as aulas e tudo mais.

Aí começaram as mudanças mais drásticas: mudei de cidade, fui morar sozinha sem meus pais e comecei a faculdade. A semana de recepção foi divertida e tudo mais, mas eu confesso que já sentia que aquele não era o meu lugar; não por causa das pessoas, porque eu fiz muuuitos amigos na Poli, mas sei lá… A minha primeira aula foi com um economista, minhas aulas de introdução à engenharia eram quase sobre como gerenciar um negócio e as coisas iam assim. Eu percebi de vez que as ciências puras eram mais a minha cara, eu gostava de estudar por simplesmente estudar e esse não era o clima da Poli. O clima da Poli, por falar nele, é pesado, lá as pessoas são muito inteligentes, mas estudam pra simplesmente passar, porque aquele lugar é insalubre. As pessoas só gostam da Poli por causa das atividades de fora, porque estudar lá não é nada estimulante. São 9 matérias por semestre, sentado na cadeira da escola das 7:30 da manhã às 4:40 da tarde muitas vezes assistindo aulas que não lhe acrescentam em muita coisa e tendo que estudar tudo sozinho em casa. Não que eu me incomode de estudar tudo sozinha, eu fazia coisa bastante pior e mais pesada no ensino médio, mas o propósito final de tudo aquilo não me animava. Ficar pegando provas passadas no Xerox ou assistindo as aulas “fuja do nabo” pra simplesmente, sei lá, ir bem numa prova de PQI ou PCC sem muitas vezes saber aquilo (não por falta de interesse, mas por falta total de tempo, porque além de tudo tem mais os infinitos trabalhos semanais) não me deixava feliz. A Poli, em resumo, não me fazia bem porque, lá, eu não sentia a motivação pra estudar e sempre aprender coisas novas por minha conta que eu tinha até então.

Com a ansiedade pelos resultados lá de fora, eu estava arranjando menos motivação ainda pra estudar. Eu já tinha percebido no fim das contas que a minha praia eram as ciências puras mesmo, pelo menos para isso a Poli serviu, e eu não via a hora de me livrar de tudo aquilo. Meu primeiro resultado de Regular Action foi o da Caltech, mas eu sabia que lá eu não entraria. Fora isso, em uma semana, sairia o resultado do MIT. Eu mal dormi aquela semana, os minutos finais então… foram malucos. Era dia 14 de março, a.k.a. “Pi Day”. Meus pais tinham ido para São Paulo e, às exatas 7:28 da noite, o resultado. “I’m sorry to inform, you were placed in our waitlist”. Pronto, já era, foi um dos meus piores dias de applicant; eu fiquei mal, beeeem mal, e não consegui ir fazer minha prova/aula de PQI no dia seguinte de manhã. Voltei para Santos e tentei arrumar minha cabeça, a ansiedade seria carregada até maio no fim das contas e eu teria que esperar os próximos resultados, que sairiam logo depois da primeira semana de provas da Poli.

BU-logoEntre o resultado do MIT e as provas da Poli, veio a premiação da OPF. Dia 23 de março de 2013, dia do meu primeiro resultado positivo. Estava eu na van voltando do ITA por causa da premiação e recebo uma notificação no celular. “Your Boston University Decision”. “Aaaaaaaah! Passei pai! Eu entrei em Boston University!” – foi o que eu comecei a gritar no meio do nada, e foi a festa. Quanta diferença a minha chegada em casa uma semana depois do resultado do MIT. Entretanto, entre esse dia e os resultados das outras que eu queria muito mais, viriam as provas da Poli.

Eita semana ruim que foi aquela. Eu estava ES-TRES-SA-DÍS-SI-MA. Quem precisa dormir mais de 3 horas por dia numa semana inteira, certo? E quem vai se estressar com 7 resultados chegando em menos de uma semana? Pffff… Eu mal tinha conseguido estudar direito desde que eu tinha entrado na Poli, mas consegui segurar minhas médias. O fim daquela semana de provas foi um alívio. Daí começaram os resultados. Eu tinha que estudar, fazer EP, terminar minhas listas, mas o meu futuro poderia ser completamente mudado em apenas 3 dias, do dia 27 ao dia 29 de março; concentração zero para mim.

Veio o primeiro, Duke, waitlisted. Depois veio o dia das Ivy Leagues: Yale, Harvard, Princeton, Columbia e Cornell sairiam todas juntas, no mesmo horário, e, depois delas, Stanford seria minha única salvação. Eu não lembro a ordem, mas os resultados no dia 28 de março foram: waitlisted, denied, denied, waitlisted, denied. Foi tanta notícia ruim uma seguida da outra que não caiu a ficha; eu simplesmente fiquei parada, sem reação. Não dá para sentir algo quando tudo vem junto. Eu simplesmente continuei olhando para a parede com a certeza de que o último golpe viria com Stanford, como realmente veio no dia seguinte ou dois dias depois, não lembro ao certo. Boston University era minha última opção da lista, então eu fiquei meio desorientada e totalmente desanimada (mesmo assim, muito obrigada à Amanda e à Caitlin que foram as duas pessoas que mais me mostraram que BU ainda poderia ser um lugar excelente para mim e pelo tempo que gastaram comigo :) ).

Assim, waitlisted virou meu nome do meio, diga-se de passagem. Eu estava em espera para 4 das universidades que eu mais queria, entre elas, a minha top choice, o MIT. O cenário, para mim, não era nada animador, e a ansiedade continuava me perseguindo enquanto eu via vários dos meus amigos felizes e comemorando. Eu não sabia o que fazer, ao mesmo tempo que eu ficava feliz por eles, eu me sentia incapaz, me sentia burra para dizer a verdade. Como eu não tinha conseguido uma vaga numa das 10 melhores? Como se fosse muito fácil… Eu então comecei a escrever cartas para as universidades que me botaram em lista de espera que nem doida. O pessoal dos correios virou íntimo meu aliás, porque eu passei de dezembro até o fim de abril indo toda semana enviar cartas de recomendação, formulários, imposto de renda traduzido, documentação de financial aid, cartas para as listas de espera, suplemento de pesquisa pré-universitária e coisas do tipo. Pois é, ainda tinha essa documentação toda além da Poli pra eu tomar conta, como se a Poli por si só já não roubasse minha semana por completo.

Logo 1Aliás, falando em documentação para Financial Aid. É, teve mais esse problema com as bolsas. No dia que saíram os resultados das Ivies, eu e alguns amigos meus do Prep Program percebemos finalmente que a gente tinha passado em algumas universidades muito boas, mas que não iríamos porque não tínhamos dinheiro… Foi então que surgiu o Apoie um Talento. Algumas madrugadas viradas em uma semana, e levamos o site ao ar! Era um lugar onde colocávamos nossas histórias, em quais universidades tínhamos entrado e nossos sonhos. Mas, além da gente, vários outros mentees do Prep Program estavam com problemas com as bolsas. Então a Fundação Estudar lançou o Estudar Fora, com a plataforma de Crowdfunding para arrecadar bolsas para todos nós que nós devolveríamos depois em doação para a Estudar patrocinar outros alunos.

logo do estudar fora

A princípio, a ideia parecia excelente, mas o que eu e, principalmente, os meus pais, familiares e amigos tiveram de trabalho para divulgar a minha página, conseguir os likes que eu precisava e as doações de quem podia colaborar é impossível de ser descrito. Meus pais viravam noites mandando cartas, mensagens, fazendo postagens e o mesmo faziam meus tios e tias, primos e primas. Enquanto isso, todos os meus amigos colaboraram na divulgação e eu não tenho nem como agradecer todos vocês. Eu espero um dia poder retribuir em dobro todo o esforço de vocês. :) Até agora eu estou correndo feito louca atrás disso, pois chegou a hora em que eu mesma tenho que ir atrás das pessoas para que elas confirmem as doações para a Fundação Estudar.

Então começaram a sair as reportagens. Primeiro uma do G1 a respeito do Apoie um Talento, depois outra na Globo com cópia parcial no G1, mais uma na Band, outra no IG e a última no jornal A Tribuna (a única que está realmente atualizada por motivos que vêm depois), além de algumas outras que eu não lembro mais. Assim, a historia começou a disseminar na internet e eu comecei a receber muitas, muitas, muitas, muitas mensagens, centenas de solicitações de amizade (não, eu não adiciono quem eu não conheço pessoalmente), e-mails os mais diversos e a minha vida virou um caos. Ao mesmo tempo que eu recebia mensagens de apoio e torcida (muito obrigada!), eu recebia mensagens das pessoas mais sem noção e ridículas que eu podia receber; mensagens de ódio gratuito que eu não entendo até agora. Se tudo já estava caótico por causa da Poli, das waitlists, das bolsas e tudo mais, ficou pior com a exposição. Muito pior. Até hoje eu tenho uns e-mails e mensagens antigas na minha caixa de entrada que eu não consegui responder até agora (desculpa :\, eu juro que respondo direito assim que me sobrar um tempinho).

Mas a exposição, apesar do lado ruim, me trouxe também coisas boas. Além das mensagens bonitinhas, entrei em contato com professores do Instituto de Física da USP. Assim, se antes eu já estava decidida a pedir minha transferência caso eu ficasse no Brasil (e a minha vida já estava caminhando para isso mesmo), não me sobrava mais uma sombra de dúvida que fosse que eu ia para lá ou para o curso de Ciências Moleculares no próximo semestre. Muito obrigada aos dois professores pelo apoio!

Um pouco antes disso ainda,  eu tinha começado o processo seletivo para ganhar a bolsa da Fundação Estudar com as suas infinitas etapas. Ele ainda não terminou. Mas o fato é que eu perdi algumas tardes e manhãs de aula por isso também. E, então, estava chegando a segunda semana de provas. Desespero é uma palavra pequena para definir o que realmente estava acontecendo comigo. Se a semana da P1 tinha sido ruim por causa da ansiedade, a da P2 prometia ser pior ainda do jeito que vinha. Os resultados das waitlists sairiam na própria semana da P2, eu tinha um EP monstruoso, trabalho de PCC pra entregar, exercícios de PCC para fazer e, para piorar, eu tinha que estudar TODA a matéria do mês para estudar, que não era pouca, junto com a prova do alemão também chegando. Pronto, foi crise atrás de crise, choro o tempo inteiro, vontade de estudar zero, depressão batendo na porta e eu não sabia o que fazer, eu só sabia que eu queria era manter distância da Poli aquela semana, mais nada.

DSCN2958As provas começariam dia 13 de maio. Era dia 11, estava eu desolada tentando de qualquer maneira resolver o exercício-programa que eu tinha que enviar até meia-noite para a aula de MAC e sem ter a mínima noção de como eu estudaria a matéria para as provas. Eu já tinha passado por nada menos que três crises de choro aquele dia. Eis que meu telefone toca. Eu não consegui ouvir nada e comecei “Alô? Alô? Quem fala?”. Alguém começou a falar em inglês com cautela do outro lado da linha e eu prontamente pedi desculpas porque eu estou acostumada a atender o telefone em português. Assim, eu só ouvi, “I’m calling from Yale University”. Minha cara nesta hora: O.o. E quando ele me perguntou se eu ainda estava interessada em estudar lá, eu falei o “definitely!” mais eufórico da minha vida! E só ouvi o “I’m glad to hear that” e depois um “congratulations” e mais nada, porque eu comecei a berrar no telefone coisas do tipo “You must be kidding me!” ou”I got into Yale?!”, e minha irmã começou a gritar do meu lado, e o admission officer a rir do outro lado da linha, e eu comecei a chorar de felicidade, e comecei a tremer. I felt like a Gilmore Girl! hahaha. É, foi um dos dias mais anormais da minha vida. A ligação caiu e eu só conseguia chorar, abraçar meus pais e não parava de falar incrédula “eu passei numa das 10 melhores do mundo”, “eu vou pra Yale”, com a cara mais “eu não sei o que está acontecendo” que eu já fiz na vida. Depois, Mr. Gozalez me ligou novamente e eu comecei a anotar as informações burocráticas tremendo absurdamente; minha ficha não caiu até agora na verdade. Aquilo significava que eu tinha minha vaga garantida para uma das melhores do mundo, que eu não precisava mais fazer o EP, que eu estava livre das provas da semana seguinte, que eu podia ainda ganhar uma boa bolsa e sofrer menos com o crowdfunding, que eu ia ter uma educação que poucas pessoas têm a chance de receber no planeta, um futuro que eu mal posso imaginar e muito mais. Desde então, eu não paro de cantar the Bulldogs’ fight song. :)

DSCN2973Assim, quando eu já não podia estar mais feliz, estava eu na minha aula e alemão, segunda à noite, dia 13 de maio. Eu estava na aula e me chega o primeiro e-mail “MIT decision”. Hesitante, abri e recebi um “we’re sorry to inform… bla bla bla… we didn’t admit anybody from the waitlist this year… bla bla bla”. Ok, sem reação, eu continuei na aula. 5 minutos contados no relógio depois, chega outro e-mail: “Your Columbia Decision”. Eu comecei a digitar login e senha feito louca e “tcharam!”, “Congratulations!…”, eu nem li mais nada, fiquei só sem reação de novo. O MIT era minha primeira opção, e eu continuo querendo ir para lá nem que seja para o meu mestrado, mas a notícia de Columbia, logo depois, deu uma amenizada no choque. Eu fiquei mais 40 minutos dentro da sala de aula e simplesmente voltei correndo para Santos, nem fiquei em São Paulo naquele dia, eu precisava organizar meus pensamentos, porque a partir de então eu tinha certeza absoluta de que eu iria estudar Física nos EUA.

É, eu estive praticamente no céu nas últimas das semanas, 😀 apesar de atarefada com documento disso, documento daquilo, cancelamento de matrícula aqui, compromisso ali etc. Mas eu voltei para casa, e agora vou para São Paulo algumas vezes por semana e volto no mesmo dia. Eu sei que, mesmo que eu frequente bem menos a Poli agora, ela me serviu para conhecer gente incrível. Muito obrigada à Bia e à Vivian, companheiras do 7725, ao Iago, coleguinha da sala 9, e ao resto do pessoal de Santos que estuda na Poli pelo apoio e por terem me aturado nos últimos meses quando eu estava me desesperando (desculpa a perturbação também haha, foi muita kkkkk). Muito obrigada ao pessoal da Poli em geral, em especial da turma 9 de 2013, por terem me acolhido tão bem, por terem torcido por mim e me dado suporte quando eu precisava. :) Foi por causa de vocês que eu consegui me segurar dentro da USP até agora.

Eu sei também que, se eu conheci gente muito boa na Poli, os applications também serviram, em parte, para isso. Eu conheci gente com as histórias mais diversas possíveis, que participou das atividades mais fora do normal sobre as quais eu nunca tinha ouvido falar antes por vezes. Então, aos mentees do Prep Program deste ano e às outras pessoas que eu acabei conhecendo neste meio tempo por motivos semelhantes, foi um prazer conhecer todos vocês, :) em especial aqueles que me aturaram conversando por muito tempo sobre applications, estatísticas favoráveis e não-favoráveis e que me ouviram quando eu precisava falar sobre como eu estava p da vida com os resultados haha (tudo bem que muitas vezes era recíproco hahahaha).

No fim das contas, meu resultado de Duke saiu esta semana também, eu fui rejeitada por lá, mas quem liga?! 😀 hahaha. A dúvida entre Columbia e Yale foi extrema, eu realmente não sabia qual escolher, but the taste of doubt had never felt so good! Tinha uma semana para decidir e fazer a matrícula, sem direito a visita ou qualquer outra coisa. Acabei me decidindo por Yale mesmo por diversos motivos (a comparação vai ser entre Yale e Columbia, porque Boston já era mesmo haha):

1. Yale me deu um pouco mais de bolsa parcial que Columbia (o que foi o ponto principal da minha escolha).

2. O sistema de Residential Colleges deles é mais proveitoso.

3. I cannot wait for the next Harvard/Yale game haha.

4. Entre New Haven e New York, prefiro New Haven, pois faz mais o meu estilo e eu ficaria extremamente estressada em NYC tal qual eu fico em São Paulo. Fora isso, New Haven fica a 1h30 de carro de NYC e menos de 2h30 de Boston, então eu tenho para onde ir caso eu fique entediada com o tamanho de New Haven.

5. Yale tem um programa de pesquisa mais bem definido que Columbia para as ciências puras e mais oportunidades de engajamento em atividades relacionadas à disseminação da ciência que me interessam.

6. Em Yale eu ainda tenho a possibilidade de fazer engenharia ou um double major em engenharia caso eu mude de ideia, o que seria impossível em Columbia para um Physics Major (meu caso).

7. Columbia tem o Core Curriculum que é excelente, mas só para quem quer seguir área de humanas, ou seja, eu ficaria limitada com os meus créditos sendo gastos em aulas de literatura clássica que não seriam muito úteis para mim e que poderiam me atrasar.

8. Yale e Columbia são bastante semelhantes quando se trata de Study Abroad Programs, então isso não pesou na minha escolha.

9. Tanto Yale, quanto Columbia têm alguns dos alunos brasileiros mais gente fina e mais atenciosos que eu conheci, então isso não pesou na minha escolha, pois ambos foram bastante semelhantes. (Obrigada aos alunos de ambas as universidades por tooooda a atenção que me deram. :) )

10. Querendo ou não, apesar de tanto Yale quanto Columbia estarem entre as 10 melhores, Yale, Princeton, MIT, Harvard e Stanford continuam sendo as 5 universidades de mais prestígio nos EUA.

A partir de agora, eu não sei mais o que vai acontecer comigo. Eu sei que eu tenho meus planos, mas eles podem mudar bastante por causa das infinitas oportunidades que vão me aparecer daqui para frente e das escolhas que vou ter que fazer, apesar de que sei que tentarei agarrar todas as oportunidades possíveis. Sei que agora vou poder ser a pesquisadora que eu quero ser. :) Eu fechei um capítulo do livro da minha vida agora e entrei em um capítulo de transição com finalização de processo de bolsa, estudo de uma ou outra matéria que eu posso pular em Yale, envio de documentação, obtenção de visto e todas essas outras burocracias.  De qualquer forma, ao contrário de como eu estava no fim do ano passado e todo o início deste ano, agora eu sei onde eu vou parar a curto prazo pelo menos. Entretanto, o capítulo que virá logo em seguida a essa transição tem somente páginas em branco e eu sei muito pouco a respeito de como eu vou preenchê-las. Só sei que vai depender de mim e que, de novo, the taste of doubt never felt so good, porque se eu estou indefinida, não é mais por causa de portas fechadas, mas pelo excesso de portas abertas…

945463_469218293158725_1106022444_n

Go, Bulldogs!
0 votes, 0.00 avg. rating (0% score)
  1. Carolina disse:

    Uau! Fiquei muito feliz por você, Bárbara. Sucesso!!

  2. João Victor disse:

    Acho que todo mundo ficou super feliz por você Bárbara! Parabéns por tudo, você definitivamente merece isso. Acho que todas essas dificuldades que você passou até receber a resposta de Yale só fizeram o seu caminho mais gratificante. Além do mais, seus posts maiores da história são também os melhores. Nunca ri tanto como quando vc disse no telefone ”You must be kidding me!” Boa sorte no seu novo caminho! 😀

  3. J. Martins disse:

    Parabéns Bárbara!!!!!!!!! A sua foto do vestibular está faz um tempo em um mural da minha escola (junto com o de outros alunos) mas não sabia dessa história toda!! É muito motivador, espero um dia poder sentir essa sensação. Você escreve muito bem (juro que senti um pouco da sua euforia ao falar das decepções e alegrias). Boa sorte!

  4. Caroline disse:

    Oi, Bárbara! Parabéns pelas aprovações -e pelo texto! :) O post ficou muito legal. É inspirador pra quem (como eu) pensa na possibilidade de estudar fora. Serviu para lembrar quanta dificuldade está envolvida mas também o quanto vale a pena.

  5. Sthefany disse:

    Nossa, sem dúvidas sua trajetória foi hard, but with a happy ending. Você só me inspira cada vez mais a tentar realizar meus sonhos, inclusive um deles é ir pra Yale ou Harvard! Aposto que é sem dúvidas gratificante estar aí.
    Se puder, pode me contatar por email com passo a passo do que devo fazer pra tentar entrar? Porque não consigo achar em nenhum lugar e os que tem não estão claros (principalmente sobre bolsas). Se não puder, compreendo.
    Que você só tenha mais conquistas em sua vida!
    Beijos!

    • Oi Sthefany! Só vi seu comentário agora, porque eu parei de acessar esse blog. Se você quiser me mandar perguntar específicas, sem problemas. Pra começar a ver o que fazer a respeito do application, eu recomendo o site do Estudar Fora e também ler direto os sites de admissões das universidades nas quais você está interessada. Eu usei essa última opção durante o meu application (até porque o Estudar Fora ainda não existia), e foi a melhor coisa que eu fiz. Boa sorte! :)

  1. Não há trackbacks para esta página.

Deixe um comentário