Fearless
O título deste post pode parecer meio estranho. E é realmente. Na verdade o título veio de uma música que eu ouvi algumas vezes semana passada (apesar de a ideia do post ter vindo de outros lugares completamente diferentes). Não, a música não tem nada a ver com o assunto de que este post vai tratar muito provavelmente (eu nunca tenho certeza de como meus posts vão terminar quando eu os começo, só uma leve noção e algumas ideias que eu acho legais). O ponto é “I’ve been fearless about lots of things in my personal, academic and even professional (?) lives these days”, então achei que um título que inspirasse coragem seria o mais adequado para um post como esse. Mas não, este post também não é sobre as coisas que me exigiram coragem nos últimos dias, é mais sobre como algo que me exigiu coragem nos últimos anos me mudou bastante.
Eu sempre fui uma criança muito tímida. Muuuito tímida. Sabe, daquelas que se escondem atrás dos pais no elevador quando entra alguém (sim, eu fazia isso haha). Quando eu tinha meus 10 anos, eu inventava maneiras de faltar nas aulas em que era necessário apresentar trabalhos só por causa de medo de falar na frente da sala. Quando eu já tinha lá meus 13 anos, eu sofria pra conseguir recitar alguma coisa na frente dos meus colegas nas “sessões poesia” que tinham no colégio. Em parte, as coisas do colégio estavam relacionadas ao fato de que eu era muito diferente do resto da minha turma e, de certa forma, isso me deixava bastante oprimida, por outro lado, era uma vergonha inerente a mim que eu sentia descontroladamente. Bom, as coisas mudam (e ainda bem que mudam)…
Nas últimas semanas eu fui exposta a diversas situações em que eu tive que me apresentar em público. Foi então que eu pus tudo em perspectiva e vi como as coisas mudaram na maneira como eu me imponho perante o resto das pessoas. O que isso tem a ver com olimpíadas? Muita coisa. Acredite, este post não vai ser totally off topic haha.
O que foi o estopim pra eu começar a pensar em escrever este texto? Pois bem, estava eu apresentando simplesmente a minha vida no Outback outro dia num evento do Prep Program; na hora que eu sentei, a pessoa sentada do meu lado virou e falou “foi bom, você fala bem, Bárbara”. Não que eu ache que eu fale bem realmente, mas não foi a primeira vez que eu ouvi isso, nem a única vez em tempos bastante recentes. Depois, veio uma repórter aqui em casa e falou “nossa, eu esperava uma pessoa tímida”.
Tudo bem que esperar uma pessoa tímida é uma visão estereotipada (muito equivocada por sinal) que as pessoas carregam contra pessoas que estudam um pouquinho acima da média geral. Contudo, pensando bem, o fato de eu conseguir falar com as pessoas e talvez até soltar algum tipo de piada numa conversa é um fenômeno um tanto recente pra mim; alguém que tenha me conhecido há mais de 2 ou 3 anos atrás certamente não me reconheceria se me encontrasse hoje.
A que eu devo tudo isso? A um conjunto de fatores. Porém, se eu tivesse que escolher um fator principal, eu com certeza escolheria o IYPT. Na minha primeira apresentação, eu lembro que eu tremia absurdamente, fiz uma apresentação péssima, mal saí da minha posição para ir até a frente apresentar meu trabalho. Nos meus primeiros anos, quando eu ia escolher a roupa que eu ia usar nas minhas apresentações, eu só tinha uma regra muito fixa: minha calça tinha que ter bolsos. Bolsos? Sim, bolsos, porque eu precisava esconder em algum lugar as minhas mãos enquanto elas estivessem tremendo. Isso porque eu precisava passar a imagem de que eu estava completamente segura e certa do que eu estava falando (e não tremer fazia parte daquilo tudo). Eu adotei essa imagem de segurança a ponto de usar aquilo para colocar medo nos meus concorrentes haha. Eu gostava daquela imagem; na verdade, ainda gosto. Porém, no fim das contas, a imagem se tornou minha figura real na maior parte do tempo. Não que isso seja ruim, isso me tornou mais forte de certa forma. Se você me ver colocando as mãos nos bolsos hoje em dia, tenha certeza de que não é para escondê-las, foi só uma mania que eu adquiri mesmo, eu não tremo mais quando eu vou falar algo na frente dos outros.
Se eu for comparar aquela primeira apresentação com a última que eu fiz, não dá nem para imaginar que as duas são a mesma pessoa. No meu último vídeo, eu pareço alguém que tinha certeza do que estava falando, que articulava as palavras com as mãos (sem ter que escondê-las haha), que falava em inglês sem se preocupar com a língua estrangeira. De fato, eu acho que era a verdade, eu realmente não estava com medo. Eu havia me acostumado. Assim, cheguei a conclusão de que habilidades sociais são totalmente aprendíveis.
Se eu não tivesse aprendido com o IYPT a me portar na frente das pessoas, eu não conseguiria passar por entrevistas, sejam elas para processos seletivos ou para reportagens; eu sequer conseguiria falar com pessoas diferentes daquelas do meu círculo de amizade (que até então era extremamente restrito) ou mesmo de maneira mais simples em conversas cotidianas com pessoas como o meu vizinho que eu encontro no elevador ou porteiro do prédio. Ou seja, se impor diante dos outros, conversar e falar em público exige uma coisa muito simples: prática.
Um exemplo mais concreto é a última etapa do processo de bolsas da Fundação Estudar de quatro dias atrás. Lá estava eu em um painel que poderia definir muita coisa na minha vida. Era uma espécie de entrevista coletiva, com a diferença de que os entrevistadores eram meia-dúzia de pessoas das mais importantes do país, de que tinha uma plateia atrás delas e de que tinham mais 5 candidatos competindo pelas mesmas vagas que eu sendo postos a prova ao meu lado. Enquanto eu via alguns candidatos tremendo absurdamente e morrendo de medo na hora de falar, eu não senti medo nem me senti pressionada pelas perguntas completamente inesperadas (o que é outro resquício de IYPT que ainda há dentro de mim).
Ao mesmo tempo em que eu odeio me expor, no sentido de colocar a minha vida em uma matéria de jornal por exemplo (de verdade, é terrível), eu aprendi a dar minha cara a tapa, a usar um pouco de um “lado cara-de-pau” que eu não tinha haha. Foi assim que eu consegui gravar o vídeo da minha página de crowdfunding, por exemplo. Aprender a me comunicar, de certa forma, me tornou mais independente, de modo que eu consigo falar por mim mesma e isso interfere na minha vida como um todo, e nos limites do que eu ainda posso alcançar de uma maneira bastante positiva. Ainda há algumas situações, em geral quando o assunto é mais pessoal e afeta meu lado emocional, em que eu tenho vários receios na hora de transmitir o que quer que seja que eu tenha para falar. Porém, hoje, eu até sinto falta de enfrentar alguém em um PF, porque eu perdi o medo dos jurados ou das pessoas que possam estar julgando em volta de tal maneira que aquilo se tornou até divertido para mim. Sinceramente, os PFs finais com apresentação para mais de uma centena de pessoas eram os mais amedrontadores, mas certamente os mais divertidos, porque eu tinha chegado a um estágio em que eu conseguia esquecer completamente da plateia pra me focar e me divertir exclusivamente com a discussão.
Assim, eu termino este post, feliz por conseguir escrever coisas desse tipo sem vergonha de que outras pessoas leiam este texto e deixo abaixo um dos vídeos referentes ao Physics Fight mais marcante da minha (não foi pela discussão certamente, mas pelo resultado; ainda assim, acho que está valendo haha). Até a próxima! E boas práticas de socialização.
Admiro muito você e tenho te acompanhado online por um tempo… Você é incrível, Bárbara. Continue lutando pelos seus sonhos e parabéns pela garra e determinação, você inspira muitos, tenha certeza! Go, Gilmore Girl! Hahahaha.
Sei se sou isso td não haha. Mas muito obrigada!