Feels like home to me
Atenção: o texto a seguir é extremamente grande e pode gerar vontade demais de ir pra Yale.
Caramba, como o tempo passou! Parece que eu cheguei ontem aqui e, no meio desse período de finals malditas, o cansaço fez com que eu não quisesse estudar coisa alguma e decidisse começar um texto aleatório às 2 da manhã (eu provavelmente vou me arrepender disso amanhã, quando eu tiver que acordar cedo pra apresentar um dos meus projetos finais e passar o dia estudando quântica e álgebra linear). Yale é um lugar EXTREMAMENTE estressante academicamente, mas eu estava refletindo agora e cheguei à seguinte conclusão: eu AMO esse lugar! Há alguns dias atrás, vieram nossos pre-frosh visitar e eu acho que deu vontade de, como diria a minha irmã, “colocar todos dentro de um potinho” e deixa-los todos guardadinhos aqui comigo. Mas eles me lembraram de uma coisa: em cerca de uma semana, meu freshman year terá acabado e eles serão a freshman class, e não a minha turma.
Yale parece que é a minha casa ao ponto de que eu não sei mais se falo que estou voltando pra casa quando eu volto pro Brasil ou quando eu volto pra cá. O mundo de oportunidades e as perspectivas que Yale me mostrou foram absurdos. Quando eu vim pra cá, eu não imaginava que tudo seria tão surreal e hoje eu me encontro na situação oposta ao primeiro semestre de 2013, quando eu odiava ir pra faculdade no Brasil. É bom poder falar de boca cheia que eu amo o lugar onde eu estudo e que é engraçado como eu não consigo me imaginar morando em nenhum outro lugar do mundo.
Passada a Orientação para Alunos Internacionais (que foi uma das semanas mais incríveis do meu ano), chegaram os alunos americanos no campus. De início, o choque cultural foi gigantesco. Aquela cultura de álcool e festas que a gente vê em filmes, até certo ponto, é sim real e me assustou um pouco. Então eu entendi que só estava aquela loucura porque era a primeira vez em que os alunos domésticos estavam “se libertando” das regras de casa, e que, por algum motivo, eles sentiam vontade de se rebelar. Quando eu ia pras minhas aulas no início, eu conhecia gente como o cara que sabia cálculo desde os 9 anos de idade e que tinha lido todos aqueles livros que eu usava pra adiantar matéria pra olimpíada de física, só que aos 10 anos. Depois, me dava de cara com o math major que só fazia aula de pós desde o freshman year, com infinitas pessoas que falavam 5+ línguas fluentemente, com a outra que já morou em 4 países diferentes antes de completar 18 anos, com diversos medalhistas de olímpiadas científicas internacionais, com pessoas que foram nominadas entre os 100 melhores alunos dos Estados Unidos, aqueles que tinham sido admitidos pra quase todas as Ivies e peer institutions (Harvard, MIT, Stanford, Princeton etc) e vindo pra cá, e por aí ia. O que eu estava fazendo aqui? Eu não fazia ideia. O “struggle bus” e o choque cultural, a princípio, faziam com que eu pensasse que esse lugar não era pra mim e jamais seria. Na minha cabeça, eu era muito diferente dos alunos daqui (os alunos internacionais ainda tinham as minhas manias haha) e não achava que eu fosse tão inteligente quanto eles (ainda não acho).
Foi quando eu percebi que Yale era o lugar em que eu poderia ter os melhores recursos possíveis. Ter a minha FroCo na suíte abaixo da minha 24h por dia foi extremamente útil. Qualquer problema que eu tivesse, indo de eu precisar de uma vassoura pra limpar meu quarto a eu estar triste com alguma coisa que tinha acontecido, eu sempre a tinha ali pra ir almoçar comigo ou me receber à meia-noite. Fora que não tem nada que pague os FroCos se reunindo durante de fim de semana pra dar quesadillas, waffles, panquecas, chocolate, pipoca etc tarde da noite, quando a única coisa que passa na sua cabeça é comida e o dining hall está fechado haha. Ao contrário da maioria das universidades pras quais eu tinha aplicado, Yale era uma das únicas onde eu não conhecia ninguém a princípio. Entretanto, isso não fez com que eu não me sentisse recebida de braços abertos. Até hoje eu lembro de entrar numa sala da OIS e na mesma hora o Dean Fabbri olhar pra mim e falar “You’re Barbara Santiago, from Santos, Brasille!” com aquele sotaque italiano dele, sem nunca ter me visto uma vez que fosse. Não vou me esquecer de receber cartões postais dos meus PLs (e até em português!) semanas antes de vir pra cá, ou de quando meus big sibs vieram em comitiva até meu quarto só pra me entregar um livro que eu não tinha, mas de que eu precisava desesperadamente pra fazer meu p-set. Tenho guardado na minha memória de que foi só eu descer do ônibus que nos pegou no aeroporto e um dos upperclassman veio imediatamente se apresentar, perguntar meu nome, tomar a minha mala da minha mão e me ajudar a transportar tudo pro meu quarto. A primeira pessoa brasileira que eu vi aqui me recebeu com um grande abraço logo ao me ver, 1 minuto depois de eu pisar em Yale e os nossos seniors que agora vão embora, sempre estavam ali para dar conselhos (mesmo aqueles que eu não segui e me ferrei depois hahahaha). É bom saber que toda segunda-feira eu posso falar português no Brazil Club Dinner e que eu posso bater na porta de qualquer brasileiro aqui quando eu precisar, mesmo que o que me deixava com o pé atrás com Yale era que eu não conhecia ninguém aqui antes de vir. A minha faculty advisor, durante o ano, me levava pra comer cupcakes pra discutir como andava a minha vida, mesmo fora do âmbito acadêmico. Os professores, mesmo os que não me davam aula, estão sempre de portas abertas pra mim. Ter a minha turma inteira morando no Old Campus no primeiro ano fez com que eu fizesse amizades ao longo dos meses que vão durar a minha vida inteira. Eu não sei se qualquer outro lugar me receberia tão bem e se preocuparia tanto com o meu bem estar como eu sinto que as pessoas se preocupam aqui. Além disso, Yale tem um dos 10 melhores programas de alimentação dos EUA e os nossos dorms nos residential colleges são extremamente confortáveis, então eu sinceramente não tenho do que reclamar da mordomia haha.
Mesmo que eu não me sentisse tão esperta quanto os meus colegas geniais, Yale fez com que eu tivesse recursos aos quais recorrer, sempre que eu necessitasse. Quando eu precisei, foi só eu preencher um formulário pra que eles contratassem uma writing tutor só pra me ajudar com meus papers de ciências políticas. Quando eu terminava meu paper de noite, era só aparecer no drop-off hours do writing center pra eles revisarem. Se eu precisasse de ajuda com os meus p-sets, havia sempre TA sessions, office hours dos professores, tutores de residential colleges e tutores a qualquer momento em alguma parte do campus. Caso eu precisasse de conselhos pra Summer Program, Study Abroad ou Fellowships, sempre tinha algo no CIPE pra eu tirar proveito. Quando as aulas pareciam me matar ou parecesse que não dava mais pra fazer nada, o STARS program me fez conhecer a Dean Garcia e meu Peer Mentor, a UWISAY me deu uma mentora undergrad e outra grad student, e todos eles estavam sempre dispostos a falar comigo e responder minhas dúvidas a qualquer momento que eu precisasse. Era tanta gente pra auxiliar, que eu nunca sabia pra quem pedir ajuda haha.
Se no Brasil eu sentia que me faltava oportunidade, quando eu cheguei aqui, levei um susto. No meu primeiro semestre, eu mandei um e-mail para um professor e ele me recebeu no laboratório dele, me entrevistou e me aceitou, mesmo sem experiência nenhuma, pra trabalhar no laboratório dele. A todo momento eu recebia e-mails falando coisas como: oportunidade de pesquisa, venha pra info session sobre fellowships e recursos em Yale, painel sobre pesquisa no departamento de física, jantar com a presidente da sociedade astronômica americana, pizza lunch com o chair do departamento de física… A impressão que eu tenho sobre pesquisa em Yale é a seguinte: levante a sua mão e fale que você quer fazer pesquisa, Yale vai até você e te dá o dinheiro pra você estudar o que quiser haha. Eu lembro de estar no lounge do departamento de física e ouvir um professor falar o seguinte: “Nossos alunos de grad school são muito inteligentes, nossos undergrads são mais ainda, então venham falar com a gente porque a gente realmente quer todos vocês dentro dos nossos laboratórios”. Eu encontrei pessoas aqui (não que eu não tivesse encontrado no Brasil também) que são inspirações e cujas carreiras eu quero pra mim quando eu crescer. Eu não estaria indo pro CERN (ainda não consigo acreditar – Sim!!!! Eu vou pro CERN dentro de um mês!) fazer pesquisa sobre o decaimento do Bóson de Higgs, logo depois do meu freshman year, com uma das professoras que eu mais admiro na vida se Yale não fosse tão empenhada em abrir todas os trabalhos de pesquisa da universidade aos alunos de graduação e eu sou muito grata a isso. Segundo uma das minhas amigas, essa professora é a “academic crush” de todo mundo que estuda física aqui hahaha.
Conhecida como a Ivy com as pessoas mais amigáveis, não poderia também faltar diversão em Yale. Eu não acho que qualquer outra escola teria uma guerra de bola de neve gigantesca com quase 1300 freshman à meia-noite durante o período de finals. Então me desculpem, ninguém se diverte como a gente! Froshlympics, quando todos os residential colleges passam o dia inteiro competindo com seus freshmen uns contra os outros, é incrível (especialmente se seu college ganha e vocês ganham bolo, Chipotle study break e pizza de graça). Cansado de estudar? Seu residential college provavelmente tem algum study break, talvez trivia night, talvez late brunch, talvez screening da abertura das olimpíadas, sei lá, pode ser qualquer coisa. Você gosta de Halloween? Apareça no dia anterior no CEID pra fazer sua fantasia com o material de lá e vá na festa de Halloween do Commons. Se você quer doce, é bom ir comer um pouco de sorvete de nitrogênio líquido, e fazer bagunça pra fabricá-lo, claro! Dica do dia: o Chaplain’s Office tem sorvete de graça… o dia inteiro! Caso você não goste de festa como eu, vá toda sexta e sábado à noite para o Global Grounds jogar alguma coisa, pôr algum trabalho em dia, conversar com os colegas e comer bolinho, cookies, pipoca, chá, chocolate quente etc até as 2 da manhã. O seu college sempre vai ter alguma atividade e convenhamos, mesmo que não tenha, morar em um residential college já te proporciona tanto lugar pra fazer alguma coisa, que falta do que fazer você não vai sentir. Se você gosta de trabalhos manuais e não está afim de estudar, pare e vá pra algum workshop pra fazer encadernação de livros. Ah! Fique avisado de que, aqui em Yale, você vai receber pelo menos um zilhão de e-mails e convites por dia, então falta de onde ir ou de show pra assistir é algo inexistente por aqui. Ficou de saco cheio da Yale bubble? Chame alguns amigos e vá escalar a East Rock pra fazer picnic. Caso comida te atraia muito, você vai amar seu freshman Holiday dinner, quando começa a cair “neve” dentro do Commons, passa uma parada de comida, seguida do Papai Noel e você finalmente tem a certeza de que realmente está em Hogwarts. Enfim, a lista é interminável…
Por falar em Hogwarts… É, não bastasse o chapéu seletor que escolheu meu college, eu ainda me se pego procurando o Harry, a Hermione, o Hagrid e comparando todo mundo aqui com personagens do Harry Potter. A arquitetura gótica faz com que eu pense a cada segundo de que eu moro num castelo medieval gigantesco. Nada é mais tranquilizador do que atravessar o Old Campus no meio da noite e ficar encarando a Harkness Tower, ouvir os sinos tocarem Jingle Bells na época do Natal, a trilha sonora de Frozen ecoando quando cai mais neve, Friday da Rebeca Black (por mais ridícula que seja) quando você está indo jantar na sexta-feira ou qualquer música que eles escolherem no dia.
Em resumo, por um acaso do destino, eu caí no melhor lugar do mundo e na universidade que eu não trocaria por nenhuma outra. Agora, quando eu começo a escrever o último parágrafo, já faz uma semana que eu escrevi o resto do texto inteiro. Eu só estou aqui no aeroporto há umas 4 horas e eu já sinto falta de Yale. É, a última semana foi ridiculamente estressante e eu mal dormi. Mas sinceramente, eu me diverti tanto fazendo piada sobre o nosso sofrimento com os meus amigos e fiquei tanto tempo “trancada” com eles estudando, que agora eu me sinto mais próxima de todos eles e eu vou sentir MUITA saudades de todo mundo e de Yale. Agora que o ano acabou, Yale parece até mais bonita e eu bem que queria ficar mais tempo lá antes de voltar pro Brasil. Anyways, eu sou oficialmente uma Rising Sophomore! That’s so scary!!! Parece que ontem mesmo eu recebi minha carta de admissão. A freshman class de brasileiros que acabou de se matricular é incrível e GIGANTE! Se no meu ano só veio eu e o Gabriel, ano que vem chegam 7 e eu estou extremamente ansiosa pra conviver com eles. Eu nunca vou esquecer este ano da minha vida e, mesmo triste porque 1/4 da minha vida em Yale já passou tão rápido, posso só falar uma coisa: cheers to an awesome Summer at CERN and an even better Sophomore Year in the Have! 😀
PS: Publicando esse post quase uma semana depois de escrever e eu já estou mais que morta de saudades de passar o dia inteiro com os meus amigos e das pessoas levando toalhas, sofás e até camas (?) pro gramado pra aproveitar o sol da primavera.
Olá!
Agora eu cheguei a conclusão que eu preciso ir pra Yale. Parabéns por passar do freshman year! Você poderia fazer um post falando das casas. It would be amazing!
Congratulations again!
Xoxo
Oi, Gabriela. Obrigada! Tem umvídeo que eu fiz ro Estudar Fora sobre os residential colleges, é só dar uma procurada no YouTube.
1. De onde veio este post? Juro que fiquei a semana toda procurando por posts e lendo coisas antigas
2. Colocar as pessoas em potinhos: ♥
3. Só pessoas especiais podem ser colocadas dentro de um potinho
4. Quadruplicar o número de brasileiros que vão aplicar pra Yale: Mission complete! (https://www.youtube.com/watch?v=iSBBsUld8zM)
5. Top!
O post veio do tédio que caiu sobre mim depois de eu voltar haha, porque eu só tenho coisa pra estudar pro estágio agora. 😛 Sim, só pessoas especiais podem ser colocadas em potinhos hahahahaha. E opa! A gente vai ficar em 15 totais! É muito brazuca pra uma universidade só!! 😀
“Colocar no potinho…” Nunca mais conto nada pra Bárbara kkkkkkkkk
conta sim, mentirosa 😛
Você é um amor, Isabella! Hahaha
Prezada Bárbara,
Aqui é a Eliane, aquela senhora que encontrou recentemente você e sua irmã no Shopping Villa Olympia logo que você chegou ao Brasil. Como vai?
Quero lhe parabenizar pelo seu blog. Seus comentários são sempre muito úteis e ajudam muito outros estudantes que pretendem trilhar o mesmo caminho que o seu.
Fiquei feliz de saber da sua oportunidade de fazer pesquisa no CERN. Isto é fantástico!
Através do seus posts podemos perceber que você está tirando o máximo de todas as oportunidades que lhe são oferecidas. Parabéns! Você é uma inspiração para todos nós.
Oi, Eliane!
Vai tudo bom, e com você? Muito obrigada (acho que eu não sou isso tudo não haha) e muito boa sorte ao seu filho!