Escolhas
Postado em 31 de janeiro de 2013 por Bárbara Cruvinel Santiago – 4 ComentáriosNo final do último post, eu comentei que ia escrever para um amigo, alguém que estava passando por escolhas muito difíceis e talvez pudesse deixar de lado algo que significasse muito pra ele. Pois bem, a vida é cheia de escolhas e elas fazem de você aquilo que você é neste exato momento. Alguns aspectos da vida da pessoa que eu gostaria que lesse este texto são muito semelhantes aos da minha própria vida, guardadas as devidas proporções. Então, eu resolvi escrever sobre as minhas próprias escolhas e como eu não me arrependo delas.
Havia muito tempo que eu falava por aí que eu queria porque eu queria entrar em determinada universidade aqui no Brasil (quem acompanha este blog sabe do que eu estou falando). Quando eu estava pra fazer 15 anos de idade, descobri que eu não tinha altura pra entrar nessa faculdade. É, isso mesmo, no alto (só que não) dos meus então 1,5 m de altura (agora eu tenho 1,53 m, antes que comecem a me zoar por aí), eu literalmente não tinha estatura física pra entrar na instituição com a qual eu tinha sonhado até então haha.
Nesse meio tempo, também surgiu também o evento que mais mudou minha vida até agora (ah não, Bárbara… Você vai falar de novo do IYPT? Sim, vou, deal with that). Eu já falei bastante disso por aqui, então tentarei ser breve. Quando eu participei da minha primeira fase nacional do IYPT, eu me senti finalmente em algum lugar ao qual eu pertencia. Era a primeira vez que a nacional estava sendo reorganizada aqui no Brasil após um hiato de 4 anos e, portanto, não selecionaria time algum naquele ano para a fase internacional. O que eu ganhei em 2010 me motivou, eu queria realmente estar nas equipes brasileiras que se seguiriam. No meio tempo de preparação a nacional, eu comecei a me envolver com algum tipo de pesquisa, nada me deixava mais envolvida do que ficar estudando para aquilo, fazendo meus rascunhos no meio da madrugada para as minhas teorias ou ficar horas no laboratório (ou na cozinha da minha casa na maioria das vezes haha) montando experimentos e os reproduzindo centenas de vezes até que funcionassem. É, as coisas mudam e, internamente, eu já sabia que o que eu queria para a minha vida seria estudar física e continuar pesquisando pro resto dos meus dias.
Pois bem, aqueles foram os primeiros sinais de mudança e, junto com algumas coisas que já passavam na minha cabeça, eu decidi que queria estudar fora do país (ok, tinha/tem uma universidade específica), já chego lá. Certo, deixa eu dar uma pausa pra explicar o que aconteceu nesse meio-tempo. Em 2010, eu já tinha surtado dezenas de vezes. Tudo daria errado, correto? Mas alguma coisa, a visão de algo maior no meu futuro, me impulsionava a continuar. Em 2011, não foi diferente. Mais ainda, foi pior. Eu tinha chegado ao meu limite físico e mental, ao ponto de ter que ficar uma semana inteira de cama ainda na preparação para a nacional; eu estava desidratando do tanto que eu tinha negligenciado minha saúde em prol dos meus objetivos. O fato é, passada a nacional, fui selecionada para a minha primeira internacional, o IYPT 2011 no Irã, uma das maiores e melhores experiências da minha vida. Foi a minha primeira grande experiência internacional; eu sofri um choque cultural absurdo que fez minha cabeça mudar bastante, mas o melhor de tudo, apesar de eu não ter conseguido uma medalha, era que eu tinha conhecido gente do mundo inteiro e viaje pra lugares que eu jamais pensei que eu fosse visitar (pelo menos não tão cedo); eu realmente queria participar de novo. Acho que um ex-participante do IYPT, pra não querer voltar, tem que ter motivos realmente muito fortes…
Mas, voltemos ao foco desse post: escolhas. Início de 2012. Eu fui oferecida uma bolsa num grande colégio em São Paulo, no qual eu tinha sonhado em estudar desde o começo do meu ensino médio e que me daria a certeza de que eu entraria naquela universidade que eu comentei no início do post, pois dedicação da minha parte acredito que não faltaria. Mas então eu me deparei com uma pegunta que não queria calar: o que eu queria realmente pro meu futuro? Quais eram as minhas prioridades? Eu queria com todas as minhas forças ir para a Alemanha no IYPT 2012, mas eu ainda estava com uma grande dúvida interna sobre o que eu queria fazer da minha vida. Ficar no colégio que eu estava significaria poder continuar o IYPT e ter alguma chance que fosse nas universidades estadunidenses. Mudar de colégio significaria ter que abandonar IYPT porque as aulas seriam em período integral (e também o meu sonho de uma universidade fora), mas a quase certeza de entrar em uma universidade brasileira excelente (desde que eu tivesse um bom advogado por causa daquele problema com a estatura). Eu me decidi, e creio que você leitor já sabe que eu escolhi a primeira opção. E eu não me arrependo, por uma série de motivos.
De fato, o terceiro ano foi puxado, como também foi o de vários olímpicos que eu conheço. Comecei o ano com uma seletiva de astronomia e com o IYPT. Na minha cabeça, eu tinha que ganhar de qualquer maneira o IYPT Brasil, afinal de contas, eu era a única pessoa que estava voltando da internacional. Eu me cobrei até demais por causa disso. Juntando seletiva, IYPT e vestibular, eu chegava dormir só 3 h por dia, era difícil me manter “de pé” nas aulas na parte da manhã. Eu fiz minhas escolhas e priorizei aquilo que pra mim era mais importante, o IYPT e as universidades estrangeiras. Na manhã do último dia da nacional, eu estava tão ansiosa, que demorei 40 min pra engolir meia barra de cereal, nada descia e pouca gente sabe disso (pelo menos sabia até agora, não tem porque eu esconder isso mais). Por fim, eu só fiquei com a prata na nacional, não passei da seletiva e, quanto ao vestibular, ainda estou esperando os resultados. Ainda assim, consegui me classificar entre os 5 primeiros, o que me garantia uma vaga no time brasileiro. Eu quase desisti por uma série de motivos não somente relacionados a minha saúde, cheguei a pensar que tinha perdido meu ano com os resultados que tinha alcançado, mas não me arrependo de ter escolhido permanecer no time. Aquela internacional me deu alguns dos melhores dias da minha vida! Tudo bem que para chegar até eles, eu passei uma quantidade muito maior de dias penando pra deixar tudo pronto, mas aqueles poucos dias foram únicos.
Eu tive que faltar vários dias de aula no segundo e no terceiro bimestre ou por causa da preparação ou porque eu tinha que voltar a colocar as coisas em dia.Isso não me prejudicou os estudos, pois eu continuei a minha rotina em casa, mas me tirou a chance de ir a minha colação de grau, já que segundo as outras salas, eu não conseguiria representá-los como oradora da turma tal qual a minha própria sala tinha escolhido. Como eu tinha vestibular muito cedo no dia seguinte em São Paulo e nada mais me prendia à cerimônia, preferi nem ir. Mas tudo bem, escolhas são escolhas. Eu escolhi as olimpíadas em vez das experiências de um último ano na escola, na verdade de forma bem mais suave que outras pessoas que eu conheço, porque eu ainda cheguei a participar de alguns trotes, ainda que não tão integrada a minha turma quanto nos outros anos: dia da fantasia, dia das crianças etc.
Ainda assim, eu não me arrependo de ter deixado as coisas que eu deixei de lado pra priorizar o IYPT. Se não fosse por isso, eu não teria tido os melhores dias da minha vida, conhecido as pessoas mais incríveis do mundo, visitado alguns dos lugares mais bonitos que eu já vi, saído na TV, no jornal ou na revista (mesmo que locais, porque foi engraçado haha) e não teria nem uma mínima chance de entrar na universidade que hoje eu quero entrar. Não fosse pelas olimpíada em geral, eu não teria passado por momentos como os do vídeo abaixo (escolhido a dedo pra pessoa que eu queria que lesse este texto; by the way, recomendo o vídeo em 6:02), nem pelos das fotos que vêm em seguida, que são momentos que eu devo direta ou indiretamente a essas competições.
Em resumo, esses são alguns dos momentos que as olimpíadas me proporcionaram e que marcaram a minha vida. Já agradeci a elas por isso, mas nunca é demais falar um outro “obrigada”. Eu não me arrependo de ter gasto meu tempo nisso, de ter me esforçado, perdido minhas noites etc, mas eu com certeza teria me arrependido se eu não tivesse feito isso. Eu não teria perdido só os momento divertidos, mas também diversas outras oportunidades. No entanto, cada um tem as sua própria vida, as suas próprias prioridades, e eu não devo me meter nelas.
Assim, cara pessoa, eu espero que você leia isso e faça a melhor decisão possível para o ano que pode determinar sua vida. Você será bem sucedido em qualquer uma delas, mas não custa tentar fazer algo de que você não se arrependa depois. Boas decisões!
Abraços,
Bárbara