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Três semanas esquecidas

Posted in Trajetória on janeiro 14th, 2013 by Ivan Tadeu Ferreira Antunes Filho – 12 Comments

Alguns amigos meus me disseram que os meus últimos posts estavam sendo escritos num estilo muito “depressivo malvado” hahaha, esse post vai seguir a mesma linha, embora um pouco mais brando :)

A motivação.

Aqueles que me conhecem, sabem que minha vida amorosa é um desastre haha. Em 2009 não era diferente. Eu estava chateado com coisas que haviam acontecido comigo (oo curiosos, não vou contar o que foi não haha, também tenho minha privacidade) e por isso fiz uma das promessas mais absurdas da minha vida.

Eu não vou tentar ter nenhum tipo de relacionamento até eu ir para uma olimpíada internacional ou entrar na faculdade.

Aí o bicho tinha pegado. Promessas são promessas, e eu não podia quebrar essa. Que enrascada que eu tinha me enfiado. Mas 2 dias depois, eu recebi um email:

17/09/2009 –
Prezado Aluno(a),

É com grande satisfação que informamos os convocados para a segunda fase da IJSO Brasil 2009.

A segunda fase ocorrerá no dia 10 de Outubro, nas dependências da Escola Politécnica da USP, entre as 8h00 e as 18h00.

O que raios era IJSO eu não tinha ideia. Eu nem sabia por que eu havia sido convocado, achei que havia sido um engano, pois eu não tinha feito a primeira fase. Mas engano ou não, eu iria aproveitar a oportunidade.

Eu pesquisei na internet sobre a competição e descobri que ela iria selecionar os 6 representantes do Brasil que iriam para o Azerbaijão. Pesquisei sobre o conteúdo da prova e vi que eu sabia menos de um terço dele. Nunca havia estudado física ou química sério na minha vida.

Então, a noite, perguntei para minha mãe se ela me deixaria ir para o Azerbaijão se eu passasse.

Azer, o que?

Azerbaijão, fica pertinho do Irã.

Ah, claro.

Ela falou esse claro com uma plena convicção de que eu não iria passar. Não culpo ela, até para mim a chance de conseguir parecia muito remota.  Confirmei se ela realmente deixaria eu ir se eu passasse, e ela confirmou. Peguei os livros do terceiro colegial da minha irmã, mais algumas apostilas de exatas e me tranquei no quarto. Estava com muita raiva dessa atitude dela. Tinha que mostrar pra ela que eu conseguia (e além disso, era minha chance de cumprir a promessa).

As 3 semanas.

Digo, me tranquei no quarto de maneira figurada. Eu fiquei estudando pelas próximas 3 semanas sem parar. Tinha calculado a quantidade de páginas que eu teria que ler por dia para ter chance de acabar o programa, e tinha dado mais de 200 páginas por dia. (os livros que eu estava usando tinham muitas páginas de exercício :) )

E eu comecei a estudar. Eu me lembro de ter começado a ficar com dor de cabeça, mas de continuar estudando. E então eu tenho um apagão. Eu lembro de ter pegado minha bicicleta um dia para assistir um jogo de vôlei das aulas de vôlei que estava matando, de ter voltado para casa, e mais um apagão. Lembro de ter ido numa reunião da escola, de ter ficado estudando um pouco durante ela, (apagão), lembro de ter entrado no MSN para pedir ajuda: não havia quem pudesse me ajudar aqui em Lins naquela época. A Deborah leu meu status pedindo ajuda e disse:

Eu conheço o Elder, que foi para a IJSO do ano passado. Ele pode tentar te ajudar.

Adicionei o Elder, e perguntei o que eu deveria estudar de biologia:

Decora os hormônios e doenças. O resto você consegue deduzir em parte.

Decorei os hormônios e doenças principais. E apagão.

Lembro de estar num ônibus indo para São Paulo com a minha mãe. Todo o esforço tinha sido grande demais para eu conseguir me lembrar. Eu só sei que depois dos apagões de memória eu sabia física e química.

No ônibus, eu estava acabado, cansado, com dor de cabeça, e estudando. Estava resolvendo as provas passadas das IJSOs internacionais (sem gabarito), enquanto eu procurava as matérias nos livros que estavam no meu colo. Lembro que teve alguma confusão no ônibus sobre pessoas bêbadas fumando dentro dele, mas eu continuei concentrado nos livros.

Cheguei em São Paulo com a minha mãe. Dormimos num hotel. Lá, eu não conseguia sair da cama, estava completamente acabado. Minha mãe me deu algum remédio e eu consegui sair da cama e ir para o taxi para ir ao local de prova (e estudando).

Mas a única coisa que eu queria era chorar e descansar

A competição.

Lá haviam vários grupos de alunos com uniformes de olimpíadas de suas escolas. Na fila para pegar o crachá alguns do Poliedro estavam falando:

Acho que ninguém estudou para essa prova, não é mesmo?

Eu estudei. E inclusive pelas apostilas do terceiro colegial de sua escola.

Eles me olharam. Um pivetinho de 14 anos falando isso? E acho que ficaram com medo haha.

As pessoas estavam comentando sobre o Gustavo Haddad, que tinha pegado ouro no ano anterior e estava fazendo a prova novamente. Havia uma certa aura mística ao redor dele haha.

Fui para a abertura e me sentei do lado do Lucas Collucci. Conversei um pouco com ele e tentei tirar umas dúvidas. Ele disse que era pra eu relaxar, que não dava pra aprender nada antes da prova.

Na abertura, disseram que haveria treinamento (não teve haha), e eu perguntei como quem é do interior participaria deles. Me olharam com a cara de: quem é do interior não passa. E disseram: vamos ver, vamos ver.

Começou a palestra de radioatividade que tinha antes da prova. Assisti a palestra, e depois que ela terminou, fui tirar dúvidas com a palestrante sobre outros assuntos de química (constantes de equilíbrio).

Fui para a prova.

A prova.

Olhei para a prova. Quis entrar em desespero, quis entregar ela em branco e ir chorar. Ela era difícil, eu não achava que eu tinha qualquer chance. Depois de alguns minutos decidi:

Vou fazer a prova. Já cheguei até aqui, então talvez de pra pegar pelo menos uma medalha… Não faria sentido eu desistir a prova.

Fiz a prova toda fazendo o melhor que eu pude. Estava sentado do lado dos alunos da cidade grande, que, como diziam os boatos “tem aulas específicas para olimpíadas várias vezes por semana”. O que eu podia fazer? Eu continuei fazendo a prova.

Saí da prova, cabisbaixo, falei para a minha mãe que talvez desse para pegar uma medalha de bronze, na melhor das hipóteses. Voltamos de carona com o Lucas Collucci até o metrô e fomos embora para Lins. Mais 6 horas de viagem.

O resultado

O resultado estava previsto para sair no domingo. Como todo e qualquer resultado, é claro que ele não saiu na data prevista. Depois de alguns dias, eu recebi um email falando que o resultado havia sido disponibilizado.

Abri o site.

Fui pra página de premiados.

Comecei a ler, o coração pulando rápido, ansioso, querendo ver se eu tinha pegado pelo menos bronze.

Medalhas de ouro

Ivan Tadeu Ferreira Antunes Filho

AHHHHHHHH

Eu comecei a pular, eu gritei para a minha mãe

Mãaaaaeee! Eu passei! Eu peguei ouro!

Como assim?

Mãaae, eu peguei ouro na IJSO!!

E ela começou a comemorar junto comigo. E eu continuei estudando até a internacional :).

 

 

Nota final

As pessoas só veem os louros e a glória, elas se esquecem de ver o caminho trilhado pelas pessoas. Esse foi um dos começos da minha história.  Todos dizem querer ir para uma competição internacional e pegar ouro, mas poucos realmente querem realmente fazer isso: estudar, se cansar, ter dor de cabeça, enfrentar problemas, querer chorar, enfrentar pressão…  Ou, com uma música que eu gosto para ilustrar:

 

The bridge

 

I’ve seen the bridge and the bridge is long
And they built it high and they built it strong
Strong enough to hold the weight of time
Long enough to leave some of us behind
chorus:
And every one of us has to face that day
Do you cross the bridge or do you fade away
And every one of us that ever came to play
Has to cross the bridge or fade away
Standing on the bridge looking at the waves
Seen so many jump, never seen one saved
On a distant beach your song can die
On a bitter wind, on a cruel tide
[repeat chorus]
And the bridge it shines
Oh cold hard iron
Saying come and risk it all
Or die trying

Disgressão

Agora que tem mais concorrência, com ótimos novos blogs aqui no vida de olímpico, como o do Cássio e do Lapinha, vou ter que me esforçar muito pra manter os leitores haha.  Até mais pessoal!