Dia 27 eu me formei no ensino médio… Fui na colação de grau. Mas não posso dizer que não fiquei emocionado. A cerimônia foi linda :). E eu infelizmente não estava nas fotos oficiais da turma ou vídeos….
Estava viajando para a OIAB, eu acho, durante essa época. E revendo um pouco o passado, eu não tive verdadeiramente um ensino médio: eu estava sempre correndo pra cima e pra baixo viajando, fazendo provas, resolvendo problemas de viagens… Estudando pra competições, resolvendo questões, e curtindo com o pessoal de olimpíadas. Foi algo bem pouco convencional o que eu fiz nos últimos 3 anos, tanto que o diploma que eu recebi foi quase que uma mensagem de: se você não teve um ensino médio, você não vai ter mais.
É claro, curti muito esses últimos 3 anos, e não me arrependo de nada do que fiz. É só que as vezes cai a ficha do preço que se paga pelas suas escolhas. Não posso dizer que assisti a todas as aulas de exatas do ano, nem que consegui entender as piadas internas dos discursos de formatura, nem que sabia o nome do professor que eu não sabia que ia homenagear hahaha, mas eu posso dizer que fiz coisas incríveis, que o “Ivan criança” não acreditaria.
Eu viajei para a Nigéria, Estônia, Finlândia, Eslovênia, Tailândia, Estados Unidos, Argentina, Portugal, Austria, Holanda, Polônia, República Tcheca… Tudo bem que alguns desses lugares eu só estive durante poucas horas, em que pude sair do aeroporto e passear, mas na maioria eu pude passar um tempo considerável, fazendo amizades e conhecendo um pouco das tradições e forma de viver neles.
Aprendi física o suficiente para entender alguns livros de faculdade, não tive que me estressar com nenhuma das matérias de ciências exatas ou biológicas para os vestibulares. Morei sozinho por dois anos e aprendi a me virar frente aos meus problemas.
Aprendi a manter contatos e amizades em outros lugares do mundo. Fiz amigos de todas as partes do planeta e eu adoro eles. Pessoas incríveis! Aprendi muito sobre as culturas e tradições de diversos locais, e o melhor de tudo: na prática, e não em um livro.
Conheci pessoas incríveis do Brasil inteiro, pessoas que estão fazendo a diferença, que são agentes ativos na sociedade. Apareci na TV, em jornais, revistas… Entrevistas até em programas de rádio. Saí em cartazes na escola e em feiras educacionais. Passaram minha entrevista da Marília Gabriela em escolas e eu me tornei um certo símbolo educacional nesse ano.
Criei (junto com todo o resto da equipe, é claro :) ) o olimpiadascientificas.com e, de certa forma, sinto que fiz algo bom, que estou ajudando as pessoas :). Dei algumas poucas aulas de linguística, escrevi metade de um mini manual, aprendi a programar o básico em C. Mudei meu sistema operacional para Ubuntu, aprendi Cálculo básico, e aprendi a reconhecer estrelas e constelações.
Aprendi o alfabeto cirílico, decorei a tabela periódica, melhorei minha pronuncia em inglês e aprendi diversas regras gramaticais. Aprendi um pouco sobre as estruturas básicas das línguas, sobre famílias linguísticas e aprendi o alfabeto fonético.
Aprendi a tocar gaita, as diferenças entre alguns tipos de terno, a dar nó de gravata… Melhorei o meu estilo de escrita, e aprendi a controlar melhor minhas emoções. Aprendi a argumentar e agora eu também sei falar em público.
Aprendi técnicas de fotografia e também o básico de linguagem corporal. Melhorei meu “senso de direção” e a minha memória para nomes de pessoas….
Fiz muitas coisas, mas também não fiz várias…
Não passei muito tempo com minha família, não saí muito com meus colegas de sala (saia com a turma de outras salas principalmente). Não tive um “colo de mãe” nos momentos mais estressantes da minha vida: tive que aprender a ficar tranquilo sozinho.
Não fui convidado para as festas de aniversário, não estive nas fotos da turma, não consegui ir nos dias de fantasia da escola… Estava muito ocupado para isso na época. Fui um pouco de motivo de piada na minha sala, também.
Não tive a tranquilidade de ter outras pessoas traçando o meu caminho. Não tive conselhos para me guiar… Ninguém soube me dizer se eu estava fazendo a coisa certa, ou seguindo o caminho certo, apenas me diziam: faça o que achar melhor.
Tive que passar muito tempo sozinho, ocupado. Não tive tempo para gastar ficando triste ou chateado, sempre tive que já tomar atitude na hora, pois ninguém resolveria os meus problemas por mim. Nunca fiquei estressado por causa de vestibular — haviam muitas coisas para as quais eu ficar estressado além dessa.
Não sei das fofocas da minha sala, não sei quem está ficando com quem. Mas aprendi a não me deixar abalar por nada disso que ocorra. Amadureci, talvez mais rápido do que deveria? Mas isto me faz ser quem eu sou. Se minhas escolhas houvessem sido outras, hoje você não estaria lendo esse meu post. Eu estaria em outro lugar e simplesmente não seria eu.
É… aquele canudo falou para mim com as palavras mais claras possíveis: “você nunca mais terá um ensino médio, Ivan. Até as fotos e vídeos no telão com você ausente indicaram isso.” Mas eu não me arrependo. Eu não me arrependo das minhas escolhas. Foram os 3 anos mais incríveis da minha vida, e se teve alguma outra coisa que um aluno de ensino médio teria que eu não tive foi: rotina.
Posso não ter feito as melhores escolhas possíveis — nunca disse que nunca errei na minha vida. Mas as escolhas foram feitas por mim, sou eu que sou quem eu sou. E isso é algo que nunca sairá de mim. E por isso eu olho para aquele canudo e digo: “Talvez eu não tenha tido um ensino médio, mas eu vivi. Eu me tornei quem eu sou, e não me envergonho disso. Sou alguém com sonhos e opiniões muito diferentes de quem eu era antes do meu EM, e é isto que importa. Você não irá conseguir tirar isso de mim canudo, e embora você viva num tempo onde as coisas poderiam ter sido, eu vivo o hoje, eu vivo o presente, eu vivo o tempo das escolhas que eu fiz, e não do mundo que poderia ser diferente.” As minhas escolhas foram feitas, e agora há outras portas esperando por serem abertas.
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