Experiências olímpicas

HMMT: Uma olimpíada de matemática desafiadora, divertida, diferente

Posted in Experiências olímpicas on março 8th, 2015 by Cassio dos Santos Sousa – 1 Comment

Logo da HMMT 2014

Por Guilherme Henrique Paulino Amaral

O Torneio de Matemática de Harvard-MIT foi minha última olimpíada científica do Ensino Médio, contudo, com certeza, marcou a minha vida para sempre. Ter participado de uma olimpíada da disciplina que mais gosto e que envolve duas das melhores universidades do mundo foi um sonho que eu não imaginava realizar.

Entretanto, as olimpíadas não faziam parte do meu universo até o terceiro ano, quando decidi participar de tantas quanto pudesse. Assim, conheci cerca de 30 olimpíadas ao longo desse tempo, dentre as quais o IYPT-BR e o HMMT ganharam um significado especial. Nesse tempo, conquistei pouquíssimas medalhas, mas também vi um mundo incrível que não acreditava que existisse, aprendi bastante, conheci novos lugares, novas culturas e fiz muitos dos melhores amigos que tenho hoje.

Da participação e da vaquinha

Existem alguns fatos talvez interessantes sobre a participação nessa olimpíada. Primeiro, é uma competição que, embora reúna participantes excepcionalmente fortes em matemática, alguns conhecidos pela IMO, ela é aberta a qualquer um que queira participar. O processo de candidatura consiste em preencher alguns dados pessoais e um espaço em que você pode comentar sobre você e o que espera do torneio. Assim, um processo de seleção é feito, em que o fator sorte pode contar bastante, e aproximadamente 1000 estudantes de ensino médio ao redor do globo são selecionados. É possível se inscrever afiliado a alguma organização, escola, ou individualmente (no caso o time é formado no dia).

Nesse aspecto, vi uma grande oportunidade. Eu nunca havia participado da IMO e estava pela primeira vez fazendo as provas da OBM, mas mesmo assim me senti encorajado a participar. Apliquei para a edição de novembro de 2014 e, depois de algumas noites de ansiedade mal dormidas, vi que fui selecionado.

Após isso, vale ressaltar um segundo fato, de que ela não se responsabiliza por nenhum dos custeios de viagem ou hospedagem. Nisso, meus pais não tinham condições de pagar; era também algo que eu sonhava com todas as forças que alguém que almeja um objetivo pode sonhar. Acabei criando uma vaquinha online, contexto em que a ajuda de muitas pessoas foi crucial para que eu viajasse e realizasse as provas.

Estrutura do torneio

A olimpíada se divide em duas competições, a de Novembro e a de Fevereiro. Uma ocorre na universidade de Harvard, e outra no MIT, sendo estas alternadas de edição para edição. A diferença está basicamente no número de pessoas em cada time e na dificuldade das questões, sendo as provas de Fevereiro mais difíceis, com muitas questões a nível da IMO, e a de Novembro com apenas uma ou outra.

As provas se dividem em Individual Tests, Team Round e Guts Round. Cada Individual Test possui 10 questões short answers com duração total de 50 minutos. Em Novembro eles incluem o General Round e o Theme Round. Ambos abordam questões de qualquer uma das áreas de matemática do ensino médio, porém o último possui questões temáticas. Já em Fevereiro incluem-se três testes: Álgebra, Geometria e Combinatória.

O Team Round é uma prova de 1 hora com a mesma estrutura dos testes individuais, só que feita com seu time. Em Novembro as questões são temáticas, porém em Fevereiro elas são baseadas em mostrar ou provar algo, como uma igualdade.

Por fim, o Guts Round, característica dessa olimpíada. É um evento de 80 minutos feito em times, com 36 questões short answers, as quais se dividem em diversas áreas e vão variando seu valor na pontuação, enquanto aumentam seu nível de dificuldade. Nesse meio, todos os times se reúnem em duas grandes salas. Dado o sinal, cada time envia um Corredor para as mesas onde se encontram os problemas, divididos em conjuntos de 3 em Novembro e 4 em Fevereiro. Assim que um time possuir respostas para o conjunto de problemas que pegou, o Corredor deve correr de volta à mesa e pegar o próximo conjunto. E nessa “corrida” o torneio vai ocorrendo até que o tempo acabe, enquanto os resultados vão sendo acompanhados em tempo real em uma grande tela.

Diferencial

Muitos aspectos mereceriam destaque aqui. Mas uma das características que chama muito a atenção é o Guts Round. É uma experiência interessante imaginar 400 ou 500 estudantes de ensino médio apaixonados por Matemática correndo em um grande hall, levando e trazendo problemas para o seu time. É uma experiência única, que torna essa olimpíada surpreendente muito desafiadora e divertida ao mesmo tempo.

Vale comentar que o HMMT também possui uma versão não oficial online, que também é aberta a qualquer estudante do ensino médio que queira ter uma ideia de como são as provas, uma excelente oportunidade que certamente vale muito a pena.

Por experiência própria

Lembro que meus pais uma vez me perguntaram se um dia gostaria de viajar para o Mundo de Harry Potter em Orlando, série da qual sou muito fã. Disse na época que queria deixar isso como segundo plano, pois se tivéssemos chance de ir para fora, seria muito melhor visitar as maiores universidade do mundo. Realizei um sonho. Participei do torneio de Novembro de 2014, que ocorreu no Science Center da Universidade de Harvard. Conheci ela e o MIT no outono, um ambiente deslumbrante para uma olimpíada de matemática! Além de o Annenberg Hall ser muito parecido com o Salão Principal de Hogwarts, o que me encheu de alegria.

Além disso, no torneio conheci pessoas incríveis e fiz muitas amizades, vindas dos mais diversos locais do mundo, passando pelo EUA, Colômbia, China, Coréia, Índia e Sirilanca. Aprendi muito com elas e com a olimpíada, tanto pessoalmente como com a Matemática em si. Por tudo isso posso dizer que vale muito a pena participar, estando muito mais que recomendado. Foi para mim e será para todos uma aventura do começo ao fim!

Veja também

Site oficial do Torneio de Matemática de Harvard-MIT – informações sobre a olimpíada e sobre como participar. Pode-se encontrar também as provas das edições passadas, bem como algumas fotos do evento e a versão não oficial online, que ocorre junto com as olimpíadas oficiais.

Dicas de estudo para olimpíadas de Matemática – escritas pela equipe do OC.

TVQ: Por que participar da melhor olimpíada de Química do Brasil

Posted in Experiências olímpicas on fevereiro 19th, 2015 by Carla Cristina Bove de Azevedo – Be the first to comment

TVQ
O Torneio Virtual de Química (TVQ) é, sem dúvidas, uma das olimpíadas mais importantes que aconteceram na minha vida. Acrescentando-se o IYPT Brasil, temos as duas principais olimpíadas da minha trajetória olímpica que, embora seja pobre em medalhas, é riquíssima em participações e, principalmente, em amigos verdadeiros de vários cantos do Brasil.

Fases

A primeira fase consiste de questões compostas por itens que devem ser avaliados como verdadeiros ou falsos, sem necessidade de justificativa. Nas duas últimas edições, foram 15 questões, cada uma com quatro itens, e dentre as quais 10 deveriam ser escolhidas para serem resolvidas. A inscrição é realizada junto com o envio das respostas da primeira fase (há uma ficha que deve ser preenchida e submetida online). A primeira fase costuma ter duração de três semanas; logo, a consulta é permitida – e, inclusive, recomendada, já que um dos objetivos do torneio é levar os alunos a aprender a pesquisar esse tipo de informação, além de aproximar o ensino médio do ensino superior, abordando conteúdos mais interessantes (e não menos trabalhosos).

Na segunda fase, ainda virtual, as questões são dissertativas; escolhem-se 5 dentre as 10 disponibilizadas no site para serem resolvidas, novamente sendo permitidas consultas e pesquisas (a duração da segunda fase normalmente é de quatro semanas, e ela se inicia logo em seguida ao fim da primeira). Não que seja simples de se encontrar as respostas, já que as questões não são copiadas de livros e sim elaboradas pelos organizadores. O legal dessa olimpíada é que ela costuma promover debates entre os integrantes dos grupos e deles com seus professores, pois há diversas questões em que se deve aplicar modelos consideravelmente recentes, ou ao menos abordagens desconhecidas dos participantes (considerando-se os padrões que se veem em química no ensino médio), o que só torna tudo mais interessante.

Para a terceira fase, que é presencial, as provas são realizadas individualmente e sem consulta, sendo permitido apenas o uso de calculadora científica não programável. São fornecidos os dados necessários à resolução dos problemas, como a explicação sobre um tema novo, fórmulas, fatores de conversão de unidades. Há questões objetivas (que não necessitam de justificativa) e dissertativas (que precisam ser resolvidas com o máximo de organização possível e demonstrando claramente todo o raciocínio empregado na resolução), e algumas delas (principalmente as dissertativas) remetem a assuntos abordados nas fases anteriores, de modo que é essencial que aquilo que foi feito anteriormente não seja deixado de lado. Todos os participantes da terceira fase ganham um certificado, além das premiações já citadas em forma de medalhas e menções honrosas.

Diferencial

O que chama a atenção de cara nessa olimpíada são as questões bem feitas e de muito bom gosto. Eu, que estou indo para o meu quarto ano cursando Química e que amo essa ciência encantadora, afirmo com convicção que é uma das provas de Química mais bonitas que se vê no país. E o mais impressionante disso é que ela é confeccionada exclusivamente por alunos de graduação, apenas sob a supervisão de um professor tutor.

Mas o diferencial do TVQ não consiste apenas em sua prova; o fato de ter suas duas primeiras fases online e somente a terceira ser presencial é também algo peculiar. Além disso, as fases online podem ser realizadas em grupos de até três pessoas, sendo que a premiação final agracia não somente os destaques individuais, como também as três melhores equipes.

Por experiência própria

Para quem está no estado de São Paulo, o local de prova é único (a Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP). Para os demais estados, a organização é bastante flexível e procura atender às demandas dos que passaram para a terceira fase e confirmaram que farão a prova. Eu, como ex-participante, recomendo a todos que puderem (de todos os estados) que façam em Campinas, na UNICAMP. Apesar do calor típico da época da terceira fase (e dos pernilongos), que costuma ser num período após as primeiras fases dos vestibulares, pessoalmente ter conhecido o Instituto de Química da UNICAMP no meu segundo ano do ensino médio me deslumbrou. Foi por causa dessa olimpíada que eu, que desde o primeiro ano decidi cursar Química, e que até o início do terceiro pretendia ir pra USP, decidi que mudaria de cidade para ir para a UNICAMP. E foi uma das escolhas mais acertadas da minha vida.

E mesmo que Química não seja o que mais lhes encanta, conhecer uma outra cidade e uma universidade de ponta como é a UNICAMP é uma oportunidade maravilhosa, além de poder fazer uma prova como a do TVQ, que vale a pena!

Veja também

Site oficial do Torneio Virtual de Química – todas as informações do TVQ estarão lá. Se for participar, leia o edital completo do torneio, que é atualizado todos os anos com o formato da prova (que às vezes muda em número de questões), além de fornecer as datas de todas as fases do TVQ.

Dicas de estudo para olimpíadas de Química – escritas pela equipe do OC.